A SALVADORA DOS TAMANDUÁS TRABALHANDO NO ZÔO-PARTE II.


 O parente quase desconhecido.


Depois de mergulhar na vida selvagem dos tamanduaís, Flávia tornou-se residente em medicina veterinária no Zoológico de São Paulo, onde passou dois anos em contato direto com os tamanduás, o que só aumentou o seu interesse pela espécie. 


Em 2005, ela foi convidada a participar de uma reunião do grupo mundial de especialistas da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) em tamanduás, tatus e preguiças, entidade da qual atualmente ela é vice-presidente. Naquele encontro de especialistas foi discutida a conservação de cada uma das espécies de tamanduá. Sobre o tamanduaí, o mais desconhecido dos tamanduás, Flávia informou ao grupo que existiam duas populações, uma no Nordeste e outra na Amazônia. Ela, que havia morado em Pernambuco, relatou aos seus colegas como havia auxiliado na recuperação de alguns exemplares da espécie. Com isso, a população de tamanduaís do Nordeste continuou sendo registrada e estudada. 

Em 2006, junto com outros profissionais, fundou o Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil, mais conhecido como Projeto Tamanduá. O trabalho vem crescendo dia a dia, sempre se dedicando à conservação da espécie. 

De lá para cá o interesse pelo tamanduaí só aumentou. Flávia, então, conseguiu apoio da IUCN (União Mundial para Conservação da Natureza) e da WCS (Wildlife Conservation Society) para mapear a espécie na região. No entanto, durante dois anos de andanças por todo o Nordeste, conseguiu poucas informações e não chegou a ver nem capturar nenhum tamanduaí. “A frustração era enorme e foi muito difícil manter a equipe motivada”, relembra. Foi então que ela recebeu um telefonema do escritório regional do Ibama de Recife, avisando que haviam apreendido um tamanduaí. Dessa forma, Flávia, finalmente, conseguiu coletar material e fotografias para provar que realmente a espécie existia no Nordeste. Outra ligação telefônica mudaria de vez a vida da veterinária. Eram funcionários do Ibama da Paraíba que estavam de posse de uma mãe e um filhote de tamanduaí. Como não havia nenhum conhecimento sobre a dieta do animal, foi muito difícil mantê-los vivos. A mãe não resistiu e morreu. Flávia ficou cuidando do filhote, apelidado de Bolinha, pois quando dorme agarrado na arvore o bicho fica em forma de bola de tênis. 

Por quatro meses, principalmente à noite, período em que o tamanduaí fica mais ativo, Flávia estudou os hábitos e comportamentos da espécie, e logo percebeu que eram diferentes dos outros tamanduás. O tamanduaí se revelou dócil e com atividade bastante lenta e reduzida, quando comparado às outras espécies. Com o tempo, o filhote começou a ganhar peso (chegou a pesar 250 gramas) e foi devolvido à natureza. “Claro que esse animal não sabe da importância da existência dele em minha vida. Mas o fato de tê-lo feito sobreviver me deu forças para começar um longo trabalho de conservação dessa espécie”, afirma Flávia Miranda. 

Em mais um exemplo de dedicação à espécie, Flávia e outros membros do Projeto Tamanduá iniciaram um trabalho de levantamento de dados sobre o tamanduaí na Amazônia. O projeto, focado na distribuição, taxonomia e genética da espécie, contou com apoio da Fundação O Boticário de Proteção a Natureza e teve início em 2008, na Reserva Biológica do Rio Trombetas, no Pará, onde os pesquisadores passavam dia e noite em canoas, buscando avistar o arisco tamanduaí. 

Referência mundial
A partir desse trabalho, o Projeto Tamanduá se tornaria referência mundial e hoje conta com um grande banco de dados e amostras compartilhado com estudantes e pesquisadores de todo o Brasil. O esforço de conservação realizado por Flávia nos últimos sete anos colocou a população do tamanduaí no Nordeste no patamar de uma subpopulação, na classificação feita pela IUCN. Para o futuro, planos de manejo serão elaborados para a conservação das áreas e, principalmente, da espécie nas regiões.

Diante dos bons resultados, o Projeto Tamanduá vem ampliando o trabalho, com atividades de pesquisa em andamento no Pantanal, na Amazônia e no Nordeste brasileiro, além de colaborar com projetos em diferentes países da América Latina. Flávia também continua sua missão. Fez doutorado em ecologia aplicada na Universidade de São Paulo (USP) e presta consultoria para diversos projetos na América Latina, África do Sul e Namíbia, além de desenvolver novas políticas públicas, principalmente na capacitação de estudantes para atuar na área da conservação de espécies da fauna brasileira. 


A mãe de Flávia Miranda continua sendo uma das grandes incentivadoras da filha, mas, agora, em vez de pedir para a menina “descer da árvore”, a encoraja em novas escaladas, sonhos ainda mais altos na busca pela conservação dos parentes, próximos ou distantes, do velho Trombeta.

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