BRASIL-TERRA DOS DINOSSAUROS.

No Brasil já foram encontrados fósseis de grandes répteis do passado, o país se destaca como um dos
lugares promissores ao avanço da Paleontologia.

                                                     
                                           


Imagine um lago numa vasta planície árida e quente, onde rebanhos de herbívoros se aproximam para matar a sede. Esperando por eles, dentro e fora d’água, poderosos animais carnívoros se preparam para atacar. Essa cena, que hoje poderia se passar numa savana africana, ocorria no interior do Rio Grande do Sul, há cerca de 230 milhões de anos, no Triássico. A diferença é que, em vez de zebras, impalas e gnus, naquela época os animais eram rincossauros, dicinodontes e cinodontes herbívoros. E os predadores não eram leões ou leopardos, mas tecodontes e cinodontes carnívoros – que viveram antes dos dinossauros.

Essa história está sendo reconstituída aos poucos, à medida que novos fósseis, encontrados naquela região, fornecem pistas sobre a vida no Pangéia – o supercontinente que então existia. Na região gaúcha de Santa Maria, foram encontrados fósseis de um pequeno carnívoro, de aproximadamente 2 metros de comprimento, denominado estauricossauro (Staurikosaurus pricei), com cerca de 230 milhões de anos de idade. Trata-se do mais antigo dinossauro do mundo, descendente de um grupo dos arcossauros carnívoros.

“Existe uma suspeita de que o Sul do Brasil e a Patagônia argentina tenham sido o berço dos dinossauros”, afirma o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Nesses locais, foram encontrados os fósseis mais antigos que se conhece.” Na Patagônia Argentina, por exemplo, foram achados, entre outros, os fósseis do euraptor (Eoraptor lunensis), o mais primitivo animal desse grupo.
foto: Augusto Pessoa
As pegadas de dinossauro preservadas em Sousa (PB), como a do iguanodonte, originaram a criação de um parque temático, onde os animais, como o carnossauro, foram representados


Na região gaúcha, que na época formava uma grande planície, foram descobertos fósseis de dinossauros quase tão antigos quanto os do estauricossauro. Entre eles, três esqueletos parciais do Saturnalia tupiniquim, herbívoro de 2,5 metros e primeiro membro que se conhece da linhagem dos saurópodes, os dinossauros gigantes pescoçudos.

Ao longo do Triássico, esse grupo de dinossauros gaúchos foi se diversificando. Foram encontrados fósseis do guaibassauro (Guaibasaurus candelariai), que se alimentava de pequenos animais; e, mais recentemente, em 2004, o unaissauro (Unaysaurus tolentinoi), o único exemplar dos prossaurópodes, ou animais herbívoros que se espalharam por todos os continentes, descoberto no território brasileiro. O unaissauro se parece com espécies encontradas na Europa, o que demonstra a movimentação dos dinossauros pelo Pangéia há 225 milhões de anos.

Os cientistas acreditam que ainda haja muitos ossos de dinossauros a serem descobertos no Brasil. Um exemplo foi o anúncio feito pelo paleontólogo da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto Max Cardoso Langer, em 2005. Até então, não havia sido encontrado no Brasil nenhum exemplar dos dinossauros do grupo dos ornitísquios, animais herbívoros cujos representantes mais famosos são os estegossauros (com placas de ossos nas costas) e os triceratopos (grandes dinossauros chifrudos).

Pegadas e ossos

Os ornitísquios eram mais conhecidos na Laurásia, continente situado mais ao Hemisfério Norte, formado há cerca de 200 milhões de anos, quando o Pangéia começou a se fragmentar. No Hemisfério Sul, formou-se o Gondwana, que corresponde ao que é hoje a Índia, Austrália, África, América do Sul e Antártida. Langer anunciou ter encontrado um exemplar bem primitivo dos ornitísquios (ainda sem nome) no município gaúcho de Agudo. “Antes disso, só havia ocorrências de pegadas desses animais, e mesmo assim mais recentes”, afirmou.

Os rastros tinham sido reconhecidos na Paraíba e no interior paulista. As pegadas de dinossauros da Paraíba são conhecidas em todo o Brasil e originaram a criação do Vale dos Dinossauros, na bacia do Rio do Peixe, município de Sousa. Lá, podem ser vistas as trilhas deixadas pelos mais diversos tipos de répteis, feitas há cerca de 130 milhões de anos. São animais com patas de até 2 centímetros e outros gigantes. Curiosamente, não se encontraram fósseis no lugar.

Região mais populosa do País, o Sudeste – e também a parte inferior do Centro-Oeste – é considerada uma das mais férteis em achados fósseis. “É onde se aposta que podem surgir novas e melhores descobertas”, afirma Alexander Kellner, do Museu Nacional. O Grupo Bauru, que corresponde a um conjunto de terrenos sedimentares que abrange, além do oeste paulista, o Triângulo Mineiro, o sul de Goiás e o leste do Mato Grosso, se destaca pelos achados de mais de 80 milhões de anos (Cretáceo inferior).

Vida em manadas

No Sudeste, só foram achados dentes e ovos de animais carnívoros, esses últimos expostos no Museu dos Dinossauros, instalado em Peirópolis, bairro de Uberaba. No entanto, lá existem ossos de animais herbívoros do grupo dos saurópodes, denominados titanossauros. São conhecidos pelo crânio pequeno, pescoço e cauda longos. Pelo menos duas espécies são características da região: o Antarctosaurus brasiliensis e o Gondwanatitan faustoi. São herbívoros quadrúpedes, sendo o primeiro muito fragmentado, mas maior que o segundo (8 metros). Deviam viver em grandes manadas, migrando de uma região para outra. Animais como esses deviam servir de refeição para o maior predador já descoberto em território brasileiro.
foto: Jonathan Blair/Corbis
Um aumento das escavações no campo deve proporcionar boas descobertas, como na Chapada do Araripe (CE), onde a equipe de Kellner inspeciona pedras com fósseis de peixes


Trata-se do Pycnonemosaurus nevesi, apelidado de “Grande Caçador”, encontrado na Chapada dos Guimarães (MT) há mais de 50 anos e esquecido no Rio de Janeiro até 2000. Era um dinossauro do grupo dos abelissauros, grandes predadores também encontrados na Argentina e na África, e viveu há mais de 80 milhões de anos. O “Grande Caçador” devia ter entre 7 e 8 metros de comprimento, 3 metros de altura e pesar mais de 2 toneladas.

Outro animal bastante grande encontrado no Brasil é o Amazonsaurus Maranhensis, pertencente a um gênero diferente de saurópodes. Tinha 10 metros de comprimento e era herbívoro, provavelmente se alimentando das copas das árvores e arbustos. Na época em que ele viveu, cerca de 110 milhões de anos atrás, o território do Maranhão, onde ele foi encontrado, era composto por extensas planícies alagadas.

Mas os vestígios de dinossauros mais completos do Brasil estão na Chapada do Araripe, um tabuleiro de 160 km, situado no sul do Ceará, Pernambuco e Piauí. Lá estavam os restos do Santaraptor placidus, um dinossauro baixinho (1,50 metro de altura), que vivia em bandos e alimentava-se de pequenos animais e de sobras das refeições de bichos maiores. O exame dos fósseis de 110 milhões de anos mostrou sinais do couro, músculos petrificados, além de vasos sangüíneos e pele. “Não existe fóssil de dinossauro no mundo em igual estado de conservação”, afirma Kellner, chefe da equipe que relatou a descoberta.

Outra espécie encontrada no Araripe é o Mirischia asymmetrica, apresentado em 2004 na Alemanha, mas ainda pouco conhecido. Além desse, são da mesma época, o Irritator challengeri e o Angaturama limai, pertencentes ao grupo dos espinossaurídeos, que são animais bizarros, com o focinho alongado com uma dentição parecida com a dos crocodilos modernos. “Os espinossaurídeos são dinossauros que queriam evoluir para jacaré”, brinca Kellner.

Suspeita-se que um aumento das pesquisas de campo deve trazer boas surpresas. “As descobertas aqui ainda não são condizentes com o potencial, especialmente quando comparadas com países como a Argentina, China e Estados Unidos”, afirma Kellner. Para ele, é necessário maior investimento, inclusive para a realização de trabalhos de exploração em novas localidades. Entre elas, aponta a Ilha do Cajual, no Maranhão, rica em fósseis e ainda pouco explorada.



Gigantes voadores

Escavações realizadas na Chapada do Araripe (CE) dão conta de 350 exemplares de 19 espécies diferentes de pterossauros, espécie de répteis alados que viveram na mesma época dos dinossauros e podiam ter até 6 metros da ponta de uma asa à outra. Muitos desses animais receberam nomes tupiniquins, como o Tupuxuara, o Anhangüera ou o Tapejara. Entre os mais famosos está o Thalassodromeus sethi, um pterossauro com uma enorme crista óssea e um bico em forma de tesoura. Acredita-se que ele pescava com o bico dentro da água. “Pterossauros são encontrados em vários lugares do mundo, mas como eram voadores e tinham esqueletos frágeis, raramente apresentam tão bom estado de conservação”, conta Kellner, autor da descoberta, que mereceu a capa da revista Science, uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo. Em outubro de 2005, Kellner e cientistas chineses anunciaram a descoberta de duas novas espécies de pterossauros (foto) em Liaoning, na China. As réplicas das espécies chinesas estão expostas no Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

                                                   
                                                           


                                                                                                                                                                                 







Comentários

  1. O Brasil precisa de investimentos para desenvolver todo o
    seu potencial no campo de Paleontologia.

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