DÁ PARA VIVER SEM PETRÓLEO.

O petróleo está presente em quase tudo que nos cerca por causa da indústria petroquímica capaz de
produzir plásticos, isopor, nylon , inseticidas e um monte de outras coisas. Ainda é um recurso muito
cobiçado por muitos países.

Mas, o mundo se prepara para reduzir a dependência do petróleo, pelo menos, como combustível
para os automóveis, minimizando o aquecimento global no mundo e a poluição atmosférica. Sabemos,
que de certa forma, o petróleo ainda move a economia mundial.




Formado por uma mistura de compostos, o petróleo é matéria-prima essencial na indústrias de tintas, ceras, vernizes, resinas, extração de óleos e gorduras vegetais, pneus, borrachas, fósforos, fertilizantes, alimentos. A partir de seu refino, são extraídos, entre outros, gasolina, diesel, querosene, gás de cozinha (encontrado junto com o petróleo), óleo combustível, lubrificante e parafina. Assim, não é à toa que ele tenha sido apelidado de “ouro negro”: o petróleo está presente em uma infinidade de produtos (veja ilustração nessa reportagem) – até em hambúrgueres e chicletes.

Dados fornecidos pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) mostram que o petróleo ocupa uma posição de destaque na matriz energética brasileira, com 37,7% da oferta de energia primária. Nesse percentual, o diesel é o derivado que tem a maior participação no consumo (43%), devido à opção pelo transporte rodoviário. Além disso, quase toda a frota de máquinas agrícolas e trens de carga emprega esse combustível. E, embora a maior parte da energia usada para eletricidade venha das hidrelétricas (90%), as usinas termelétricas, que funcionam a base de combustíveis fósseis, como petróleo, gás ou carvão, acabam sendo acionadas nos casos em que os níveis dos reservatórios estão baixos.

Apesar disso, o País começa a fazer a sua lição de casa e aprende a depender um pouco menos desse tipo de combustível. É o que ocorre, por exemplo, em Betim, município mineiro conhecido como pólo da indústria automobilística e petroquímica. A cidade é modelo nacional no uso de energias limpas. Betim também participa da campanha internacional Cidades pela Proteção do Clima, destinada a incentivar políticas de implementação de medidas quantificáveis para a redução de emissões locais de gases de efeito estufa como forma de melhorar a qualidade do ar e de vida.

Significa que a cidade não apenas utiliza fontes alternativas de energia, mas também se preocupa em racionalizar o uso dos combustíveis fósseis e da eletricidade. Na residência da manicure Maria Geralda da Conceição, por exemplo, a água do chuveiro é aquecida por painéis solares. A cidade tem quase 1,7 mil equipamentos desse tipo instalados em casas populares. Lâmpadas a vapor de sódio, mais eficientes e econômicas, substituem as de mercúrio na iluminação pública. Leis municipais obrigam o uso de veículos oficiais do tipo flex (gasolina e álcool) e a frota de ônibus é movida a biodiesel, que contém um percentual de 2% de fonte energética renovável.

Na cachaçaria Vale Verde, onde funciona um parque ecológico, o bagaço da cana gera vapor que move o alambique e as máquinas produtoras de um doce mineiro famoso, a gelatina de cachaça. Nos arredores da cidade, o proprietário rural Marcelo Guimarães, dono da Fazenda Jardim, planta cana, produz álcool e abastece o próprio veículo com o produto.

Em regiões bem mais pobres que Betim, a preocupação é outra, mas a necessidade de procurar fontes alternativas de energia também está presente. É o que ocorre em Riacho do Cipó, situado em Jeremoabo, no Raso da Catarina, Bahia. Ali, a energia que recentemente passou a clarear a vida da população não provém da hidrelétrica Paulo Afonso, distante 160 km do povoado. Ela advém do sol que castiga esse pedaço da caatinga. Painéis solares, instalados pelo Programa Luz para Todos, do governo federal, permitem que os moradores assistam TV com antena parabólica.

O consumo de fontes alternativas, no entanto, ainda é limitado. Na casa de Ildebrando de Santana, por exemplo, a velha geladeira funciona com botijão de gás. O ferro de passar roupa ainda é a carvão e a máquina de costura é das antigas, movida a pedal. As lâmpadas, é verdade, substituíram os candeeiros a querosene, mas a água que abastece o povoado é bombeada pela força de um gerador a óleo diesel.

O petróleo vai acabar?

Mas o esforço para limitar o uso de combustíveis fósseis é limitado e a dependência traz a interrogação: será verdade que, diante do aumento da população e das novas necessidades econômicas, chegará um dia em que o petróleo vai acabar? No ritmo atual de consumo, as reservas mundiais já descobertas devem durar apenas mais 75 anos – menos de um século, garantem os especialistas mais otimistas. Os pessimistas falam em algo como 35 anos. A procura pelo “ouro negro” é maior do que a descoberta de novas reservas. E o alto preço do barril que, na virada de 2008, alcançou o recorde de US$ 100, não interfere nesse cálculo. Mas acelera a busca de alternativas, sobretudo quando o preço sobe em função dos conflitos em áreas explosivas do planeta, como é o caso do Oriente Médio.



Fugindo da gasolina

Outro grande desafio são os atuais 950 milhões de veículos, que respondem por cerca de 10% das emissões globais de dióxido de carbono – o principal gás causador do efeito estufa. Nesse ponto, o Brasil leva vantagem. O relatório dos cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), responsável pelos dados mais atualizados sobre o aquecimento global, propõe que os biocombustíveis substituam entre 5% e 10% da gasolina consumida no mundo até 2030. Atualmente, essas fontes renováveis representam apenas 1% da energia utilizada no transporte.

Em um prazo de duas décadas, acredita-se que o Brasil poderá ter capacidade de produzir etanol suficiente para o mundo atingir as metas do IPCC. Traduzindo: evitar a queima de 1,7 trilhão de litros de combustíveis não-renováveis por ano em todo o planeta, de acordo com estudo do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico (Nipe), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Atualmente existem 248 usinas de álcool na região Centro-Sul e 88 no Nordeste. Até 2012, deverão entrar em funcionamento mais 86. Para isso, o País precisará multiplicar por sete os atuais 6 milhões de hectares ocupados pela cana-de-açúcar, equivalentes hoje a 1% da área agrícola nacional.

Essa capacidade é importante, embora a febre do etanol implique em questões sociais fundamentais, como as condições de trabalho dos cortadores de cana e a ocupação de áreas propícias ao cultivo de alimentos. Enquanto os Estados Unidos estipulam metas para substituir, até 2020, um sexto da gasolina por álcool, em território brasileiro, esse combustível mais limpo representa 40% do consumo. E 80% dos novos carros já saem da fábrica com tecnologia flexível, podendo utilizar álcool ou gasolina.

Isso significa que o etanol poderá vir a substituir totalmente a gasolina nesse intervalo de tempo? Bem, não necessariamente. O petróleo é tão importante na civilização moderna que, curiosamente, dependemos dele até mesmo para produzir combustível renovável. “Para 100 litros de etanol, são utilizados 7,1 litros de petróleo, necessários na produção, por exemplo, dos adubos nitrogenados e herbicidas para o cultivo da cana, da gasolina dos tratores, do diesel dos caminhões e do óleo das máquinas e outros equipamentos das usinas”, afirma o pesquisador Isaías Macedo, do Nipe.

Parece muito? O próprio pesquisador confirma que “esses valores são baixos se comparados ao petróleo necessário para produzir álcool de milho, nos Estados Unidos, ou da beterraba, na Europa”. Explica-se: diferente das matérias-primas concorrentes, a cana fornece o bagaço, capaz de suprir toda a energia que move as usinas.

                                                                     

A busca por novos caminhos


Os pesquisadores apostam em uma outra alternativa mais barata, embora ainda difícil de visualizar em um futuro próximo. “Caminhamos para a era do hidrogênio, que fará parte das nossas vidas nos próximos dez anos”, prevê o engenheiro Paulo Emílio de Miranda, da UFRJ, O hidrogênio está presente, por exemplo, nas novas tecnologias desenvolvidas pela indústria automobilística para se adaptar ao mundo sem petróleo. Mas ele não deve abastecer somente os carros. No Japão, segundo Miranda, existem mais de 2 mil casas aquecidas por esse tipo de energia elétrica, que não polui e pode ser obtida até da água.

O Brasil dá os primeiros passos, com o projeto de um ônibus abastecido por essa fonte renovável, desenvolvido pela UFRJ com apoio da Petrobras e da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Os experimentos vão além dos centros urbanos. Chegam ao povoado Pico do Amor, próximo a Cuiabá (MT), que ganhou, em 2008, um gerador de eletricidade à base de hidrogênio, extraído do etanol vindo da cana. Projetado pela Unicamp, o equipamento levará luz à comunidade e fará funcionar máquinas para produzir farinha e rapadura.

“A solução não é apenas buscar alternativas, mas ter um estilo de vida mais saudável”, afirma o engenheiro químico Márcio Nele, também da UFRJ. “Não adianta usar biodiesel e dobrar o número de veículos nas ruas”, afirma, lembrando que nunca se consumiu tanta energia no mundo como nos dias atuais. Só para dar um exemplo simples: o que aconteceria se um chinês adotasse os mesmos hábitos de consumo de um americano de hoje? Esse cálculo já foi feito. Se a China tiver três carros para cada quatro habitantes, como ocorre nos Estados Unidos, somará 1,1 bilhão de veículos, mais do que existe hoje em todo o planeta. O consumo de combustível, de 99 milhões de barris diários, também superaria o global, segundo previsão de Lester Brown, presidente do Instituto de Política da Terra, organização internacional sediada em Washington. Para ele, chegou a hora de mudar os padrões econômicos da civilização. “O mundo precisa urgente de um plano B”, afirma. Se, aos poucos, se esforça para diminuir a dependência do petróleo, também precisa aprender a usá-lo de forma mais racional.


                                                                 



















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