OS MULTIUSOS DO BAGAÇO DA CANA RECICLADA.

Palha de cana virando papel:

                                                           


Há anos que o alto consumo de papel e seus métodos de produção chamam a atenção como uma das atividades humanas mais nocivas ao planeta. Para produção de uma tonelada de papel são necessárias de 2 a 3 toneladas de madeira, cerca de 540 mil litros de água e uma quantidade enorme de energia (é a quinta produção que mais consome energia). Os químicos utilizados, para a separação e branqueamento, comprometem a qualidade da água e do solo na região em que o papel é produzido.

De acordo com uma pesquisa do Worldwatch Institute, em países em desenvolvimento – como o Brasil – o consumo de papel per capita pode superar a marca de 300 quilos por ano. Com isso cresce o desmatamento, a plantação de árvores não regionais e o volume de lixo. Para frear esse processo, é comum vermos campanhas de reciclagem, reuso e de impressão responsável, mas ainda não é suficiente.

Pensando nisso, uma empresa do interior paulista desenvolveu uma nova forma de produzir papel: a partir da palha da cana-de-açúcar. Pioneira na atividade, a FibraResist transforma a matéria-prima em uma pasta mecânica celulósica, uma fibra virgem utilizada para a produção de papel e embalagens.

“Transformamos um subproduto em matéria-prima, desenvolvendo um processo que, além de dar à palha da cana-de-açúcar uma destinação sustentável, é livre da emissão de CO² e outros gases poluentes, porque é um processo totalmente a frio, feito todo em temperatura ambiente”, explica Mario Welber, relações públicas da FibraResist.

Segundo a empresa, o processo desenvolvido por eles, além de eliminar a necessidade de calor, também evita o desperdício de água e a produção de materiais a serem descartados, já que o pouco resíduo gerado pode ser utilizado como adubo.

“O uso da pasta mecânica celulósica vai muito além do apelo da sustentabilidade. Ele traz mais produtividade e rentabilidade à indústria de papel e embalagem”, afirma José Sivaldo de Souza, da FibraResist.

Entre o produto da FibraResist e o papel mais comercial que conhecemos, a diferença é a tonalidade. De acordo com a empresa, como a pasta mecânica celulósica não passa pelo processo químico de clareamento, o resultado final é um papel um pouco mais escuro.


Produção de fibrocimento com o bagaço da cana de açucar.


Uma pesquisa realizada por estudantes de Engenharia Química em parceria com o Departamento de Engenharia Civil do Centro Universitário da Fundação Educacional (FEI) atestou a eficiência mais sustentável do uso do bagaço de cana-de-açúcar em substituição ao amianto, na fabricação de fibrocimento para telhas.

A abundância do material é considerada um elemento importante também para essa utilização. Segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), anualmente são produzidos 139 milhões de toneladas de resíduos de bagaço de cana, que também é destinado para geração de energia.

Segundo a orientadora do projeto, a engenheira química Fernanda Rossi, com a incorporação do material, foi avaliada a melhoria das propriedades mecânicas. “A introdução da fibra do bagaço no cimento promoveu o aumento da resistência à tração por flexão, como também maior resistência à absorção de água. A sua utilização in natura ajuda por seu valor agregado e não agride o meio ambiente”, disse Carolina Espínola, uma das cinco estudantes à época, que participaram da pesquisa. Para tornar seu uso viável, é necessário passar o bagaço por um pré-tratamento com vapor d`água afim de tirar o excesso de açúcar.



A orientadora diz que a primeira etapa da pesquisa acabou no ano passado. “Neste ano deveremos dar prosseguimento a testes em laboratório para haver a validação da utilização do bagaço da cana-de-açúcar no fibrocimento. Algumas empresas se mostraram interessadas em dar escala ao projeto”, disse à Horizonte.

A engenheira química explica que esta matéria-prima pode substituir o amianto. Em comercialização no mercado, desde os anos 40, principalmente como isolante térmico, o amianto é atualmente proibido em cerca de 70 países. Entre eles, Alemanha, Austrália, Dinamarca, Espanha, França, Japão e Noruega. No Brasil, que é um dos mais produtores e exportadores, já existe legislação que proíbe o produto em alguns Estados (MG, MT, PE, RJ, SP, RS), mas ao mesmo tempo, a execução da lei enfrenta decisões de julgamentos de recursos dos produtores no Supremo Tribunal Federal (STF). O uso do material é controlado, por legislação no país desde 1995.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o material está no grupo das principais substâncias cancerígenas, morrendo anualmente cerca de 107 mil pessoas, em decorrência da exposição contínua. O motivo é a sua relação com as causas de doenças ocupacionais, como câncer de pulmão e a asbestose, que também afeta o pulmão devido à inalação prolongada da poeira presente nas fibras do amianto.






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