CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS II : OS IDEAIS DA SUSTENTABILIDADE.

As empresas e os consumidores estão preocupados com o nosso futuro comum, principalmente em
países de primeiro mundo, se adequar à nova mentalidade, impõe a necessidade de obter certificação
das empresas com relação à sustentabilidade no seu processo de produção.


Bem na foto
A Fujifilm Corporation é uma das maiores multinacionais do mundo nos segmentos de imagem e informação e por determinação da matriz, no Japão, todas as unidades fabris obtiveram a certificação ISSO 14001 – inclusive a Fujifilm da Amazônia, certificada desde 1998. “Na época, não foi um processo tão simples porque precisamos envolver não só os funcionários, mas também os prestadores de serviços e até a comunidade”, conta Carlos Alberto David Farat, diretor residente da empresa. Segundo ele, os principais custos foram alocados em consultoria, treinamentos, construção da central de resíduos, estação de tratamento de efluentes e algumas melhorias necessárias para a adequação da fábrica. “Os custos valeram a pena porque conseguimos realizar controles mais eficazes na destinação de resíduos, no consumo de recursos naturais e na adequação às legislações pertinentes. Além disso, propiciou uma visão positiva do mercado, dos colaboradores, da comunidade vizinha e principalmente dos órgãos ambientais”, afirma Farat. 

A força do cerrado
A Caramuru é uma indústria nacional de alimentos sediada em Itumbiara (GO) que opera no processamento de soja, milho, girassol e canola para a extração de farelo, óleo e lecitina e na produção de biodiesel. A empresa atua fortemente em exportações de soja, que geraram um faturamento de US$ 462 milhões em 2009. Mas, tanto para ter controle sobre o efeito no meio ambiente dos processos produtivos, bem como para atender às necessidades e exigências do mercado interno e externo, a empresa aderiu à certificação ISO 14001, em 2005, e passou por uma atualização em 2008. Segundo a diretora de recursos humanos da empresa, Margareti Scarpelini, “a ISO 14001 requer plena transparência com relação às práticas ambientais. Permite que a organização controle suas interações com o meio ambiente por meio do uso sustentável dos recursos, da definição de responsabilidades e da adoção de processos de melhoria contínua. E ainda por cima contribui para que a organização forneça produtos com qualidade”. Segundo ela, a ISO 14001 exige atualizações a cada três anos. “Não é apenas um certificado moldurado pendurado na parede. A jornada é diária”, afirma.

Você é o ambiente
A Artpharma, com sede em Jundiaí (SP), é uma farmácia de manipulação diferente. Foi a primeira da América Latina a conquistar a certificação ambiental ISO 14000, em 2001. A Artpharma investiu no uso racional de água e energia elétrica, na coleta de lixo reciclável, no destino de resíduos, no treinamento do seu pessoal, na medição das emissões dos caminhões de entrega, entre outros procedimentos. Um exemplo é o programa de retorno de frascos de plástico e vidros de medicamentos para reciclagem. Mas a Artpharma não conseguiu manter a certificação em 2005. Segundo Elizete Gonzalez Perino, farmacêutica proprietária, os custos de contratação de uma empresa que fornece a atualização das legislações ambientais em todo país – uma das exigências da certificação – são de R$ 8 mil mensais. “É um valor que seria repassado aos preços. Mas preferi manter as práticas determinadas pela certificação, me atualizando por meio da minha entidade de classe e contratei uma consultoria para me avaliar periodicamente. Assim, continuo dentro das normas extraoficialmente certificada.”

Certificação já
A agricultura brasileira enfrenta um momento de mudanças, principalmente por conta da necessidade
de certificação


Cada vez mais o mercado agrícola está se preocupando com a forma como são produzidos os alimentos, quais e como os insumos (sementes, defensivos e fertilizantes) foram utilizados, os tratos culturais adotados, se houve mão de obra infantil, se o processo produtivo não agrediu o meio ambiente, como se deu a armazenagem, o processamento... Enfim, todos os elos da cadeia produtiva são verificados, para que o produto final tenha plena aceitação por parte dos comerciantes e dos consumidores. A certificação é essencial nas exportações (soja, algodão, milho, café e frutas), pois os clientes só negociam com quem é certificado por instituições e/ou entidades devidamente reconhecidas e cadastradas por organismos internacionais de validação. Existem certificações brasileiras, como a do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) – credenciado pela SFC (Sustainable Farm Certification), com a concessão do uso do selo Rainforest Alliance Certified – e a do Instituto Biodinâmico (IBD). Além disso, já está em vigor a lei que obriga os produtores orgânicos a se certificarem. Só quem ostenta o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica pode se dizer “orgânico” e participar do mercado formal. 

As leis e a pressão do mercado estão chegando até o pequeno produtor rural. Tanto que a maior parte dos programas governamentais de apoio a eles inclui auxílio à adequação às regras da certificação, como o projeto financiado pelo governo do Estado do Paraná e realizado pela Tecpar, que propiciou acesso à certificação para mais de 100 pequenos produtores rurais de orgânicos. Segundo Luis Fernando Guedes Pinto, secretário-executivo do Imaflora, os investimentos na certificação resultam em uma série de benefícios socioeconômicos e ambientais ao longo dos anos. “E independe do tamanho da propriedade ou tipo de cultura. O Ipanema Coffee, por exemplo, é o café brasileiro mais famoso do mundo, que abastece a rede americana Starbucks, e é certificado e plantado em apenas 10 hectares”, afirma Luis Fernando.

Verduras sustentáveis
A Chácara Sabores da Natureza, em Colombo (PR), produz alimentos orgânicos de forma sustentável, com a certificação da Tecpar, o Instituto de Tecnologia do Paraná. Seus produtos são o resultado de um sistema de produção agrícola equilibrada na qual não se usa agrotóxicos, fertilizantes sintéticos, irradiação, transgênicos, aditivos químicos, reguladores de crescimento, herbicidas, pesticidas e produtos similares nocivos ao meio ambiente. “Hoje a certificação é obrigatória, mas preferimos nos adequar a ela já há três anos, para dar credibilidade ao consumidor. Infelizmente, tivemos de acrescentar esses custos aos produtos, pois aderir e cumprir custa caro. Mas valeu”, conta a proprietária Priscila Prüss.

Aderir à certificação demandou procedimentos inéditos para a Sabores da Natureza, como fazer análise de solo, por exemplo. “Foi preciso também produzir dentro das regras por três anos antes de obter a certificação definitiva. Porém, o mais difícil foi rastrear o produto. Parecia impossível, mas hoje ele é 100% rastreado”, conta Priscila. Segundo ela, o consumidor agora pode ter certeza de estar adquirindo um produto 100% orgânico.

Equilíbrio com a natureza
A SOS Verdinhas Strapasson é uma empresa familiar que atua no mercado de hortifruti, produzindo hortaliças convencionais, hidropônicas e orgânicas de alta qualidade em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. A empresa sempre se destacou pelos cuidados e respeito ao meio ambiente. Por isso, adotou a certificação como uma forma de tornar oficial uma prática que já fazia parte da sua cultura. “A certificação contribui para que o produto mantenha um padrão”, afirma Janeide Strapasson, engenheira agrônoma da empresa.

Segundo Janeide, a exigência mais difícil de ser cumprida pela certificação é a obtenção de sementes orgânicas. “Ainda podemos utilizar sementes e mudas que não são orgânicas, mas, a partir de 2013, isso será proibido”, conta. Mesmo assim, ela garante que valeu a pena. “O cultivo orgânico, após um tempo de manuseio, entra em equilíbrio com a natureza e isso faz com que o seu custo se reduza. Acaba ficando mais barato que o próprio cultivo convencional. Com a certificação só há ganhos positivos”, revela.

Qualidade e sabor
A Fazenda Santa Terezinha, na cidade de Paraisópolis (MG), produz um dos melhores cafés orgânicos do Brasil. Segundo o agrônomo Paulo Almeida, administrador da fazenda, o segredo da plantação é o cultivo com ricos nutrientes de adubações naturais e a colheita manual dos grãos, que garantem um amadurecimento uniforme. Outro segredo está na secagem, feita em secadores para que o ar circule por todos os lados. O resultado é uma produção anual de 24 toneladas do café orgânico premiado por três anos consecutivos pela Associação Brasileira de Cafés Especiais, embora com um preço de mercado 70% maior do que os cafés tradicionais. A produção é certificada pela Associação de Agricultura Orgânica (AAO) desde dezembro de 1999 e pelo Instituto Biodinâmico (IBD), que, segundo Almeida, foi a mais importante para os seus negócios porque é reconhecida internacionalmente. Animado com o sucesso e os lucros, ele quer exportar mais para Inglaterra, Japão e EUA.

Aposte no verde
A certificação da coleta produtiva é a maneira mais eficaz de garantir a sustentabilidade da atividade no Brasil

Existem dois tipos de certificação florestal: a Certificação de Manejo Florestal e a Certificação Cadeia de Custódia. Na primeira, todos os produtores podem obter o certificado se cumprirem as exigências, não importando o tamanho do empreendimento. Essas florestas podem ser naturais ou plantadas, públicas ou privadas. A certificação pode ser caracterizada por tipo de produto: madeireiro, como toras ou pranchas; ou não madeireiro, como óleo, sementes e castanhas. O certificado é válido por cinco anos e a atividade é monitorada a cada ano.

A Certificação Cadeia de Custódia tem um série de exigências que se aplicam aos produtores que processam a matéria-prima de floresta certificada. As serrarias, os fabricantes e os designers precisam obter o certificado para garantir a rastreabilidade, que integra a cadeia produtiva desde a floresta até o produto final.

A certificação florestal ainda é voluntária. Porém, cada vez o mercado internacional a exige para ter garantia de que a matéria-prima se originou de fontes sustentáveis. Mas, implantar a certificação foi um processo complexo: no início houve dificuldades em se obter consenso entre os mais de 40 programas nacionais de certificação florestal em operação no mundo. Afinal, os padrões são diferentes entre a floresta natural e a plantada, ou a floresta de clima temperado e a de clima tropical, por exemplo. É necessário adotar certificações com critérios adequados às peculiaridades ambientais, sociais, econômicas e culturais de cada floresta. Portanto, a existência de vários programas de certificação florestal no mundo tornou-se também inevitável.

Existem, porém, dois sistemas de certificação florestal de caráter “internacional”: o Forest Stewardship Council (FSC), que opera em mais de 80 países, e o Programme for the Endorsement of Forest Certification schemes (PEFC), que promove o reconhecimento mútuo de programas nacionais adaptados à realidade de cada região, muito comum entre os países europeus. 

O Programa Brasileiro de Certificação Florestal (Cerflor) é reconhecido pelo PEFC. Os princípios e critérios do Cerflor foram desenvolvidos pela Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS) e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para atender a demanda do setor produtivo florestal do país.

Garantia de origem
A Suzano Papel e Celulose é a segunda maior produtora global de celulose de eucalipto e líder regional no mercado de papel, com operações em 80 países. Possui cinco unidades industriais, além do controle de 100% da Conpacel (Consórcio Paulista de Papel e Celulose) e acaba de adquirir a Futuragene – com capacidade de produção de 3 milhões de toneladas de pellets por ano – e de criar a Suzano Energia Renovável, baseada na pesquisa e desenvolvimento de biotecnologia direcionada aos mercados de culturas florestais e biocombustíveis. A empresa adotou tanto o Cerflor quanto a certificação FSC, que atesta a sustentabilidade não só sobre o produto final, mas para toda a cadeia de custódia, do financiamento à indústria gráfica, fabricantes de cadernos e distribuidores de papel, de modo que essas etapas também respeitem os aspectos sociais, ambientais e econômicos. Na visão da Suzano, a tendência é que, cada vez mais, o consumidor passe a se preocupar com as questões ambientais. Em mercados como o europeu, ter certificado é uma exigência e não um diferencial. Ao adotar e exigir papel certificado, as empresas e os consumidores têm a garantia de que aquele produto foi desenvolvido dentro dos princípios da sustentabilidade.

Casamento verde
A Barra do Cravarí Agroflorestal, localizada em Palma Sola (SC), atua na área de reflorestamentos para a produção de painéis de madeira (compensados). Recentemente, a empresa conquistou a certificação de seu manejo florestal e o selo Cerflor assessorada pelo Instituto Paranaense de Tecnologia (Tecpar). Segundo Gustavo Bloise Pieroni, engenheiro florestal responsável da empresa, a certificação gera redução de desperdício e melhora as condições de trabalho no campo. Para se certificar, a Barra do Cravarí promoveu programas de capacitação dos colaboradores, implantou cuidados técnicos de produção florestal, monitoramento e conservação do ambiente durante as atividades de manejo. “Outro princípio avaliado é o relacionamento empresa e comunidade”, afirma Pieroni, “isto aumenta a confiança e a credibilidade da empresa junto ao mercado consumidor."
                                                         
                                                                
Tamanho é documento
O Grupo Orsa atua na produção de papel, papelão e produtos florestais, como castanha-do-pará, por meio de suas várias empresas. Entre elas, a Orsa Florestal, responsável pela produção de madeira a partir do manejo de mais de 20 espécies nativas da Amazônia. Toda a produção segue rígidos padrões estabelecidos pelo FSC, tanto na operação florestal quanto no processamento industrial. Portanto, oferece madeira com garantia de origem e de cumprimento de requisitos socioambientais. Segundo João Antonio Prestes, diretor de Recursos Naturais e Negócios Florestais, a certificação serve também para orientar o consumidor a escolher um produto que não degrada o meio ambiente: “A Orsa optou pelo FSC porque é a principal certificação florestal do planeta e é o selo mais respeitado e aceito internacionalmente. O mercado já diferencia quem adere às certificações ambientais. A comunidade europeia já editou lei que a partir de 2012 não mais permitirá a entrada de produtos não certificados”, afirma. Para Prestes, a certificação FSC vai além da proteção e do uso correto dos recursos naturais do planeta. “No caso do Grupo Orsa, oferecemos alternativas de geração de renda para que os povos da floresta possam viver dignamente sem precisar devastar suas áreas. Eles se transformam em guardiões, pois compreendem o valor da floresta em pé.


                                                            

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