CERTIFICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS I : OS IDEAIS DA SUSTENTABILIDADE.

As certificações são uma garantia das empresas aos seus consumidores de que todo processo de
produção de seus produtos não afetam o meio ambiente e não desperdiça recursos naturais.


A s certificações socioambientais foram criadas no intuito de nortear políticas públicas e educar dirigentes, empresários, trabalhadores e consumidores a respeito dos impactos socioambientais das atividades produtivas e do uso e descarte adequado de produtos. Com isso, busca-se promover uma mudança de comportamento e do padrão de consumo. Para tornar a certificação visível, são concedidos selos. Eles funcionam como atestados de qualidade e de conformidade. Assim, as empresas que se adequam aos padrões, além de adotarem práticas mais econômicas e sustentáveis, se beneficiam também do reconhecimento da sociedade e se diferenciarem das demais. Hoje, já há setores da economia que só realizam negócio com empresas e fornecedores certificados. Os consumidores, por sua vez, estão cada vez mais conscientes. Já começaram a dar preferência a produtos identificados pelo selo de certificação, pois, mais do que nunca, desejam contribuir para a eliminação de atividades ilegais, predatórias ou de alto impacto sobre o ambiente e as comunidades.

Cabe às entidades certificadoras estarem sempre atentas à velocidade das demandas do setor produtivo e da sociedade. No fim, todos podem fazer a sua parte, seja adequando os processos produtivos da empresa às exigências da certificação ou jogando um papel usado em uma lixeira adequada à reciclagem. Atitude é tudo, ainda mais carregada de informações. Conheça, a seguir, um pouco sobre os diferentes tipos de certificações socioambientais e caso reais de empresas que aderiram a elas.


Edifícios inteligentes
As práticas sustentáveis na construção podem se tornar uma referência para uma sociedade comprometida com as próximas gerações

Segundo estudos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, a construção civil é um dos principais agentes de desenvolvimento da economia brasileira, responsável por 15,5% do PIB. Movimenta por volta de R$ 400 bilhões por ano, é responsável por 2,2 milhões de empregos diretos e mais de 6 milhões indiretos. Porém, o setor é apontada como um dos que mais impactam o meio ambiente, não só no Brasil como no mundo inteiro: consome dois terços da madeira e cerca de 50% dos recursos naturais do planeta, boa parte deles não renováveis. Além disso, o processo produtivo também é crítico. A fabricação de cimento, por exemplo, é responsável por 8% do total de emissões de gases e poluentes responsáveis pelo efeito estufa, além de gerar resíduos que retornam ao meio ambiente. 


A solução para boa parte desses problemas está na construção sustentável, que utiliza recursos naturais de forma inteligente e constrói edificações capazes de tornar mais eficazes o consumo de energia e de água – como, por exemplo, utilizando painéis solares para aquecimento, captando água de chuva, oferecendo áreas para coleta seletiva de lixo e fazendo uso de tecnologias para regular a acústica e a temperatura. 


Já existem processos construtivos sustentáveis elaborados segundo normas e padrões pré-estabelecidos que geram certificações para garantir sua implantação e continuidade. As principais certificações voltadas para esse setor são a americana LEED (Leadership in Energy and Environment Design) e a francesa HQE (Haute Qualité Environment). Elas são adotadas em diversos países, inclusive no Brasil, que segue a LEED e a certificação AQUA (Alta Qualidade Ambiental), baseada na HQE, e que vem a ser o primeiro referencial técnico para construções sustentáveis adaptado à nossa realidade. 

No mercado já se observa uma exigência do selo de certificação em, por exemplo, licitações – o que pode fazer da construção civil uma referência para uma sociedade preocupada cada vez mais com a sustentabilidade 
dos empreendimentos.


O laboratório verde
A unidade do laboratório de análises clínicas Delboni Auriemo do bairro de Santana, em São Paulo, inaugurada em 2008, recebeu com pioneirismo o certificado LEED concedido pela United States Green Building Council, ONG americana com escritório no Brasil. “A construção da unidade foi totalmente baseada em princípios rígidos sustentáveis, desde a escolha do terreno, dos fornecedores para a obra e dos programas implementados no dia a dia do atendimento de clientes”, conta Rafael Romanini, diretor da Regional São Paulo do laboratório. A madeira usada na obra foi extraída de reflorestamento; os fornecedores não podem estar a mais de 800 quilômetros da unidade para economia de combustível; as válvulas de descarga dos banheiros têm controle para redução do uso de água e foram colocados sensores de presença em cada ambiente para reduzir o desperdício de energia. Na área externa há um bicicletário, vagas exclusivas para veículos movidos a álcool ou gás natural e também para usuários que aderirem à prática da carona, incentivando a diminuição do uso de carros e combustíveis. E o sistema de ar-condicionado opera com o gás ecológico R407, que não agride a camada de ozônio.


Tecnologia diferenciada
O edifício da Petrobras, situado no bairro Cidade Nova, no Rio de Janeiro, recebeu, em 2008, a certificação Core & Shell e conta com uma concepção e tecnologia diferenciadas. Todos os vidros da fachada são duplos para aproveitar a luz solar e evitar a entrada do calor, reduzindo consumo de energia do ar-condicionado em até 60%. Além disso, se a temperatura externa estiver abaixo de 30 graus, uma claraboia se abre, desligando a iluminação artificial do oitavo ao segundo andar. Há vagas especiais para veículos de baixa emissão e um sistema de captação da água da chuva e do ar-condicionado, que é destinada para limpeza, irrigação dos jardins e para os vasos sanitários. Isso diminui em até 40% do consumo diário de água.

A opção por uma construção certificada demandou um investimento 10% maior, um valor considerável por causa das dimensões do projeto, mas compensado pela diminuição substancial nos custos de operação. E a empresa reconhece, também, o retorno indireto, produzido pela imagem da corporação junto à comunidade local e aos investidores.

Funcional e econômico
A rede Leroy Merlin de material de construção 
e bricolagem inaugurou, em 2009, em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, a primeira loja de varejo a receber 
a certificação AQUA, auditada pela Fundação Vanzolini. 
A certificação se preocupa desde a concepção e realização do edifício até detalhes de seu funcionamento. “A proposta arquitetônica, funcional e paisagística, e os procedimentos e materiais utilizados na obra, buscaram o menor impacto ambiental possível”, conta Alain Ryckeboer, diretor-presidente da empresa.

Para obter a certificação, a Leroy precisou atender a 
mais 80 itens exigidos pela certificação. Entre eles, a relação do edifício com o seu entorno; a gestão da energia, da água e dos resíduos de operação e manutenção do edifício; o conforto interno e a saúde dos ambientes. O ar-condicionado, por exemplo, consome 20% menos de energia do que os sistemas convencionais.


Produção sustentável
A ISO 14001 consolida-se
como a certificação das indústrias e empresas modernas, preocupadas com a sustentabilidade 


O setor industrial, o maior responsável pelas agressões ao meio ambiente, está sendo convocado a largar as promessas e discursos e fazer algo na prática. Uma das alternativas está na certificação. Criada em 1947, a International Organization for Standardization (a conhecida ISO) objetiva criar e divulgar padrões de normalização mundiais que servem como uma cartilha para as indústrias estruturarem sua produção segundo exigências, procedimentos e compromisso com a qualidade. 
Em 1994, a organização adicionou questões ambientais às exigências da certificação ISO 9000, dando origem à ISO 14000. Grandes empresas e multinacionais procuraram adequar sua produção a essa certificação, principalmente por conta das exigências ambientais dos setores automotivo e petroquímico. Hoje, apresentar um certificado ISO14001 (a atualização da norma feita em 2004) virou um argumento de negócios das empresas, principalmente aquelas que são fornecedoras de grandes grupos, atuam com exportações e buscam clientes preocupados com o consumo consciente.

A ISO 14001 se consolidou no mundo todo como uma certificação que avalia o padrão de produção econômica em termos de gastos de energia e água, incentivando a redução de desperdícios e de uso de matéria-prima – e, claro, gerando mais lucros. As exigências ambientais trouxeram ainda novas visões e tecnologias aplicadas. As estações de tratamento de efluentes, por exemplo, permitiram que a água descartada pudesse ser reutilizada. Graças à reciclagem, o lixo gerado pode até dar lucro e os investimentos em meio ambiente, ainda que de lento retorno, podem produzir benefícios importantes no longo prazo. Acima de tudo, as empresas perceberam as vantagens comerciais de se fazer marketing baseado na consciência socioambiental de seus colaboradores e consumidores. Passados quase 15 anos, o casamento da indústria e das empresas de médio e grande porte com a certificação ISO14001 se firmou. Em 2010, o Brasil atingiu a marca de 4 mil certificações, o maior número entre todos os países da América Latina.


                                                                                   

Comentários