TERRAS INDÍGENAS SÃO OCUPADAS POR MADEREIROS QUE DESMATAM A AMAZÔNIA.

Madeireiros ilegais infiltram-se na Amazônia e derrubam árvores sem qualquer controle das autoridades. A diferença é que, neste caso, o crime ambiental está sendo cometido no Peru, que tem quase 60% de seu território coberto por florestas tropicais e ocupa o nono lugar na lista dos países com maior extensão florestal (o Brasil está em segundo). Assim como no Brasil, o ritmo do desmatamento é avançado – são 110 mil hectares dizimados por ano – e boa parte dele é clandestina.  a reportagem foi ao país vizinho para ver de perto como funciona o lucrativo negócio das madeireiras ilegais, que movimenta US$ 150 milhões por ano.

Nem toda madeira que sai do Peru é ilegal. O governo autoriza a extração desde que a área esteja registrada em documentos fornecidos pelo Inrena  (Instituto Nacional de Recursos Naturais do Peru). Só que a presença quase nula do órgão responsável na Amazônia abre espaço para irregularidades. Segundo um relatório do Banco Mundial, 80% da madeira peruana é extraída ilegalmente. Madeireiros montam acampamentos em terras indígenas diante da inércia do governo do Peru e com vista grossa da Polícia Federal. As comunidades não têm muito a fazer contra o avanço da atividade, segundo a Unidade de Inteligência Financeira do país.



Durante as visitas a dois acampamentos madeireiros na Amazônia peruana, em conversas com madeireiros, foi acompanhado o processo de derrubada ilegal e constatou como é fácil burlar as concessões florestais do Inrena. Os documentos são vendidos e alterados entre os madeireiros, que retiram a matéria-prima fora de suas áreas e registram o desmatamento como se fosse realizado dentro da área permitida. “Onde há extração legal, há extração ilegal. Aqui em Nueva Esperanza existem de seis a dez áreas concedidas. O problema é que todas essas áreas já estão sendo exploradas há mais de dez anos. A madeira já acabou faz tempo”, afirma Alejandro, um madeireiro local. “Tem gente que tem concessão, mas nunca derrubou uma árvore dentro de suas áreas. Eles se dedicam a vender a documentação do Inrena a outros madeireiros. Não existe nenhuma fiscalização.” As imagens a seguir mostram o desmatamento ilegal.

                                                                                  


Num acampamento localizado no igarapé Esperanza, os trabalhos começam com as primeiras luzes do dia. É preciso tempo e força para derrubar e transportar um cedro, árvore de porte grande. Daniel,* filho do responsável pelo acampamento, faz cortes triangulares na base do cedro para fragilizá-lo . Quando se ouve um estalo, é preciso correr para longe. O cedro centenário vai ao chão em poucos segundos, carregando outras pequenas árvores numa sinfonia de troncos rangendo . Depois de cortar o tronco em quatro partes, vem a etapa mais cansativa: carregar as toras floresta adentro, enquanto um deles, chamado de palanqueador, dá direção à madeira, controlando a velocidade .


O acampamento  fica a duas horas de barco da base militar brasileira de Estirão do Equador, do lado peruano da fronteira. “Na maior parte da Amazônia peruana existem concessões de exploração de madeira, mas aqui não. Mesmo com a concessão, é proibido trabalhar com madeira, por se tratar de uma área protegida por lei”, diz Francisco, responsável pelo local. Ele explica que não há risco nenhum em manter a extração, já que não existe fiscalização. “Quando começamos a trabalhar aqui, os policiais da base de Carolina (localizada no rio Yavari Mirim) me procuraram para cobrar a propina. Combinamos que no final da temporada eu pagaria mil soles a eles (cerca de R$ 915). É assim que funciona, se você der o suborno deles, no pasa nada.
                                                                            



As toras do cedro ficarão no acampamento até a próxima chuva forte, que alaga o igarapé e faz a madeira ir boiando até um lago próximo ao rio Javari. Lá elas serão colocadas em um comboio com centenas de toras  que desce o rio Javari em direção a Islandia, comunidade peruana na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, onde serão processadas numa das muitas serralherias da comunidade, que vive exclusivamente da atividade madeireira .

                                                                        




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