A ORIGEM DA SECA RECORDE QUE AGONIZA O RIO SÃO FRANCISCO.

A água do mar invadiu a cabeceira do Rio São Francisco, ao mesmo tempo que seus afluentes perenes começaram a secar completamente. Hoje, o que se vê, é a terra rachada a perder de vista
do que já foi um ¨mar continental¨ de peixes, embarcações e água doce.

Cobrindo 7,5% de todo o território nacional e espalhada por seis estados do país além do Distrito Federal, a bacia do rio São Francisco é uma das mais importantes fontes de água, história e cultura do Brasil. Hoje, o Velho Chico e seus subsidiários atravessam uma das piores secas da história.

 Somando os quatro reservatórios que alimentam usinas hidrelétricas na bacia e que são administrados pela ANA (Agência Nacional de Águas, do governo federal), o sistema operava, na quarta-feira (8), com apenas 6,99% de seu volume útil.
                                                                            

A falta de chuvas é uma das causas para a falta de água. A atual seca vem se acumulando desde 2012. Mas esse não é o único fator. A ação humana ao longo da calha do rio e de seus principais afluentes e o uso mal-planejado dos recursos hídricos da região também são apontados por estudos e especialistas como fatores preponderantes para a seca.

O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais, e atravessa o sul nordestino até desembocar no oceano Atlântico. Sua foz marca a divisão entre os estados de Sergipe e Alagoas. Mas a bacia é mais do que seu rio principal, e engloba também os afluentes.


O sistema completo é dividido em quatro partes: alto, médio, submédio e baixo São Francisco. A maior parte da água que abastece o rio chega dos afluentes de Minas Gerais e da Bahia: mais especificamente 98,5% de sua vazão total, segundo dados coletados entre 1976 e 2000 por um estudo publicado em 2007 na Revista Brasileira de Engenharia Agrícola Ambiental.

A falta d’água passou a ficar mais aguda a partir de 2012. Vários municípios decretaram estado de emergência por causa de seca e estiagem entre 2003 e 2015.

Sul e Nordeste são as regiões mais afetadas, e praticamente toda a bacia do São Francisco está inclusa na mancha vermelha. A partir de 2012, as regiões central e noroeste de Minas Gerais e do centro baiano passaram a ter secas mais constantes. Água que falta no início do curso do rio é problema para todo o resto de seu leito. E a questão é agravada com a presença das barragens de hidrelétricas, que controlam a vazão natural do rio para garantir a produção constante de energia.

Com o atual cenário de seca e o assoreamento de vários rios afluentes da bacia, a vazão do São Francisco está bem abaixo do normal.
As barragens também estão secas, e qualquer chuva que vier servirá para recuperar o nível das represas. Por isso, “vai ter que ter uns dois ou três anos de chuvas muito boas para voltar à situação normal”, diz Medeiros. A época de chuvas na região começa em novembro.
                                                                   


Com a água sendo retida pelas barragens, a região da foz fica ainda mais prejudicada. A vazão abaixo do normal tira a força da água do rio que chega no mar, e permite que a água salgada do oceano faça o caminho inverso e entre no curso fluvial, o que trata-se de um processo de salinização da foz.

Segundo Medeiros, os problemas com a vazão do rio têm duas origens principais: a falta de chuva e o mau gerenciamento do fluxo d’água nas hidrelétricas. Para ele, o projeto de transposição em curso não tem impacto direto na seca.

“O volume [de captação] da transposição quando estiver totalmente pronta é em torno de 100 m³/s. Se a vazão do rio estiver normal, em torno de 2.000 a 2.500 m³/s, o retirado não é grande coisa. Mas como agora está em 600 m³/s, retirar 100 m³/s faz falta. Isso depende da vazão total do rio”, disse.

O presidente do CBHSF disse que os comitês locais de gestão dos recursos hídricos, que incluem setores da sociedade civil, do governo e das empresas que utilizam as águas represadas para fins econômicos, “estão morrendo por falta de recursos e de vontade política”, o que indica o descaso com a participação da sociedade civil na administração desses recursos.
                                                                                       



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