Segundo Milton Marcondes, coordenador de pesquisas do Projeto Baleia Jubarte, que se dedica ao estudo sobre estes animais no período em que visitam a costa brasileira, as mortes estão associadas ao aumento da população da espécie. Porém, acrescenta que a ação humana não pode ser descartada, já que muitas baleias encalhadas apresentavam ferimentos causados por rede de pescas.
A temporada das baleias jubarte no litoral brasileiro – entre os meses de julho a outubro – está chegando ao fim este ano com um triste recorde: nunca tantos animais desta espécie morreram encalhados nas praias brasileiras quanto neste ano. Foram 103 encalhes em todo o País – 41 só na Bahia – e uma pergunta inquietante: o que está por trás deste número?
A temporada das baleias jubarte no litoral brasileiro – entre os meses de julho a outubro – está chegando ao fim este ano com um triste recorde: nunca tantos animais desta espécie morreram encalhados nas praias brasileiras quanto neste ano. Foram 103 encalhes em todo o País – 41 só na Bahia – e uma pergunta inquietante: o que está por trás deste número?
Enquanto pesquisadores buscam explicações, as mortes das gigantes dos mares chocam a população humana. “Nunca vimos algo assim tão de perto. É lamentável”, afirmou o pescador Alberto Santos, 54 anos, quando se deparou com uma baleia encalhada na praia de Ondina, em Salvador, no dia 1º de setembro. Apenas 21 dias depois, o estarrecimento era do autônomo José Alcides Souza, 54 anos, diante de outro animal encalhado, mas, dessa vez, entre a Boa Viagem e a Pedra Furada, na Cidade Baixa.
Segundo o projeto, o número de encalhes ainda não constituem uma ameaça efetiva à população da baleia jubarte.
Recuperação
O Projeto Baleia Jubarte pondera que a população de jubartes nas águas brasileiras no inverno e primavera está em franca recuperação da depredação sofrida durante muitas décadas de matança comercial da espécie. “De uma população que em 2002 era de apenas cerca de 3.400 baleias na costa do Brasil, hoje estimamos que já seja superior a 17.000 animais. Mais baleias vivas quer dizer, necessariamente, mais baleias mortas por causas naturais, como doenças, filhote que se perde da mãe, velhice, ação de predadores, bem como devido à ação humana”, detalha Marcondes.
Marcondes diz que a recuperação populacional faz com que esse grande número de baleias encontre um ambiente cada vez mais alterado por atividades humanas, que podem também causar encalhes e mortes. Como pesca com redes, colisões com grandes embarcações, principalmente onde há rotas de navios que demandam portos cruzam as áreas de concentração das jubartes, ruídos de determinadas atividades, a exemplo dos trabalhos de prospecção sísmica, além da poluição.
Produção de krill
Marcondes, que é médico veterinário, observa também a possibilidade de uma correlação entre o maior número de encalhes detectado este ano com uma menor produção de krill (pequenos crustáceos que servem como principal alimento das jubartes do Hemisfério Sul) na região antártica. “Essa diminuição ocorre a cada quatro ou cinco anos em função de eventos climáticos como o El Niño”, ressalta o especialista.
O quanto essa diminuição na população de krills pode ser causada pelas mudanças climáticas é ainda motivo de estudos, mas causa preocupação, porque pode comprometer a recuperação futura das populações de baleias. Para entender quantos animais vão a óbito por causas naturais ou devido à ações humanas, o Projeto Baleia Jubarte destaca a importância de se examinar as carcaças dos animais, para descobrir a causa da morte e buscar soluções para estes problemas.
O projeto busca, sempre que possível, atender os eventos de encalhe com sua equipe de veterinários e pessoal especializado. O registro detalhado das condições dos animais encontrados mortos ajuda a entender o contexto dos encalhes e a construir estratégias para minimizar os impactos da atividade humana que possam estar relacionados a um aumento de mortalidade das jubartes.
Desafios
São raros os casos em que as baleias encalham vivas na praia. Quando acontece, o grande desafio é mover criaturas tão pesadas sem feri-las ainda mais. O recente exemplo bem-sucedido em que a comunidade de Búzios (RJ) trabalhou com êxito para resgatar uma jubarte jovem encalhada demonstra que coordenação e uso de boas técnicas podem trazer um final feliz para esses eventos.
“É importante frisar, entretanto, que tentar o desencalhe de uma baleia viva é uma ação que envolve muitos riscos, tanto de ferimentos provocados involuntariamente pelo animal, como a aquisição de doenças ao entrar em contato com a baleia e com o spray de sua respiração. Por isso, essas tentativas devem sempre ser realizadas sob orientação especializada”, recomenda o Projeto Baleia Jubarte.
O projeto também diz que “apesar de números elevados e da tristeza causada por ver animais majestosos mortos no nosso litoral, os encalhes de jubartes nessa temporada ainda não constituem uma ameaça para a recuperação da espécie em nossas águas. Mas é preciso estarmos vigilantes e seguirmos monitorando esses eventos, para assegurar que as atividades humanas não sejam responsáveis por mais mortes e que possamos garantir a existência das baleias no mar brasileiro em uma convivência harmônica com as pessoas”.
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