CATADORES DE LIXO: OS BENFEITORES DAS CIDADES.

São Paulo produz 12 mil toneladas de resíduos domiciliares diariamente. 35% de todo esse material tem potencial de reciclagem, mas, segundo a prefeitura, somente 6% deste volume é reaproveitado. Porém 100% deste volume é destinado aos heróis invisíveis, que fazem da cidade um lugar melhor, mas muitas vezes são esquecidos, ou menosprezados, pela população e pelo poder público.

“Mexer com materiais recicláveis é um trabalho como outro qualquer, mas muitas pessoas têm preconceitos, inclusive meu ex-namorado. Muitos ironizam, perguntado quantos quilos de papelão tinha separado e se isso já dava pra comprar uma bala”, lamenta Tatiane Olegário Souza, coletora que faz parte da triagem na Cooperativa Vitória da Penha, na Vila Sílvia, em São Paulo.
                                        

Todo o resíduo coletado da cidade, seja por cooperativas ou empresas concessionárias, é encaminhado às cooperativas. Lá este material passa pela triagem, pelo armazenamento e recebe o destino correto, para ser feita a reciclagem. “Não existe reciclagem no Brasil sem o trabalho dos catadores. São eles que reinserem o material no ciclo de produção, transformando o que é considerado lixo em mercadoria novamente”, comenta Fernanda Lira, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Aplicadas.
“Colaboramos para reduzir os problemas do meio ambiente, mas isso não despende só de nós. As pessoas precisam contribuir”, afirma Josemar Henrique dos Santos, operador de máquinas na reciclagem de embalagens longa vida.
Graças aos heróis invisíveis, não apenas os resíduos têm um futuro melhor, mas nós, também. Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), existem 2.976 lixões ativos no país. Esta forma de descarte prolifera doenças como malária, dengue, febre amarela e esquistossomose. Com o trabalho das cooperativas garantimos o menor uso deste tipo de descarte, o que previne doenças e oferece um ambiente mais digno de moradia, sem maus odores e poluição.

Por que heróis invisíveis?

Em julho deste ano, o catador Ricardo Nascimento foi morto por policiais militares durante uma confusão em uma pizzaria de Pinheiros, onde pedia comida. De acordo com os movimentos Pimp My Carroça e Minha Sampa, a melhor forma de evitar este tipo de episódio é dando visibilidade a estes trabalhadores tão importantes às cidades.
As duas organizações pretendem instalar, no Largo da Batata – região onde Ricardo foi assassinado –, um monumento, em tamanho real, de um catador de materiais recicláveis.
A instalação será produzida com materiais recolhidos na cidade pelos próprios catadores e será batizada de Heróis Invisíveis. O objetivo é lembrar aqueles que, como o Ricardo, sofreram algum tipo de violência devido a sua profissão.
Para a construção são necessários 26 mil reais, que os organizadores pretendem angariar através de um site de financiamento coletivo. São aceitas doações a partir de R$25, que geram ‘recompensas’, como agradecimento no site, camisetas e mini carroças.
                                            

A arte da reciclagem

Estes trabalhadores também já foram tema da exposição A Arte da Reciclagem, inspirada no livro homônimo. No livro é possível conhecer a rotina e a importância dos catadores de materiais recicláveis através da história de personagens inspiradores e indispensáveis às nossas cidades e ao meio ambiente.

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