Os seres humanos estão por aqui há muito pouco tempo e a nossa existência está baseada em nossa capacidade de controlar o CO2. Como vamos controlá-lo?
A partir da Revolução Industrial, por volta da década de 1750, éramos relativamente poucas pessoas habitando esse planeta. Se compararmos o número de pessoas com a utilização de combustíveis fósseis, veremos uma enorme correlação entre a população humana e a utilização de combustíveis fósseis. Desta maneira, os combustíveis fósseis nos levaram talvez de algo em torno de uma centena de milhões de pessoas no planeta para sete bilhões agora e avançamos para 7 bilhões. E 25% de todas as emissões de CO2provém do setor de transportes. Por isso, precisamos fazer algo em relação às emissões de CO2.
Poderemos questionar: “o etanol é relevante?”. Muito tem-se falado na mídia sobre como será o fim dos motores de combustão interna. Muita gente está falando sobre sua desativação e muito se tem conversado sobre como os veículos elétricos serão lançados em larga escala. Com base nisso, o etanol é relevante mesmo? É parte de uma solução que está avançando?
A maior parte dos analistas estão apontando para o fato de que se tivermos que descarbonizar o setor de transporte por veículos leves, um lançamento mais agressivo seria algo em torno de 400 a 500 milhões de veículos elétricos e híbridos até 2050. Isso representa uma quantidade enorme de carros, mas o problema é que haverá dois bilhões de carros naquela mesma época. Deste modo, até mesmo daqui a 30 anos, provavelmente, a grande maioria dos carros ainda será de veículos movidos a combustíveis líquidos.
Além disso, outras partes do setor de transportes: aviação, transporte marítimo, caminhões pesados etc. apresentarão dificuldade em relação à descarbonização por meio da eletricidade simplesmente por causa da baixa densidade de energia do etanol comparando-se à eletricidade. Aquele setor representa 50% de todas as emissões. E o que vamos fazer em relação a isso? Voar sobre o Atlântico com um cabo de alimentação atrás, não é nada prático.
Assim, não veremos a solução do problema dos transportes com eletricidade por um bom tempo. Na minha opinião, e na de muitas pessoas também, é que essas coisas podem coexistir. Precisamos de tudo isso. Precisamos de etanol renovável, precisamos da energia renovável dos setores de energia solar e eólica. Tudo isso deve ser combinado de maneira mais rápida do que é feito agora para se descarbonizar o setor de transportes.
Vamos comentar sobre o potencial da nossa região nesse contexto – e há um incessante impulso tanto para a captura e armazenamento naturais de carbono quanto para a mobilidade elétrica. Como a América Latina se encaixa nisso? Penso que a América Latina pode tornar-se a “Arábia Saudita da exploração de biomassa”. Os sauditas têm acesso ao petróleo mais barato do mundo. Quem serão os vencedores num futuro em que se fará uso de biomassa? A localização da América Latina é perfeita e apresenta, de longe, os mais baixos custos de biomassa, tanto no que tange ao amido quanto à biomassa. Assim, a região está pronta para um grande crescimento.
Atualmente, é o segundo maior mercado de etanol do mundo e, no Brasil, com o RenovaBio, esperamos que a produção no mercado seja quase dobrada. Pelo menos outros 15 a 20 bilhões de litros sairão do Brasil nos próximos 12 a 15 anos. Isso é realmente empolgante para a região e proporciona inúmeras oportunidades de crescimento, e acredito que esse crescimento virá de muitas partes do setor. O cinturão de milho no Estado do Mato Grosso assistirá à expansão no volume de etanol de milho. Também antecipo que essas plantas começarão a contemplar a ampliação de plantas de etanol 2G para a combinação de etanol 1G com etanol 2G.
A indústria da cana com a Granbio e a Raizen já está bem longe em termos de desenvolvimento de tecnologias de etanol 2G prontas para a implantação e tenho certeza que a indústria da cana também continuará a crescer. São muitas e fortes as plataformas atualmente implantadas que podem garantir tal crescimento.
No México fala-se sobre o aumento em um ou dois bilhões de litros de etanol, reforçado pelo decreto dos 5,8% de adição do etanol. Lá, tem-se até mesmo discutido elevar isso para E10. Na Argentina estão pensando em adotar os híbridos como no Brasil. E vão acrescentar outro bilhão de litros de etanol relativamente rápido. Muitas regiões estão se esforçando para desenvolver o fornecimento ou a demanda. Assim, uma região em que a demanda está crescendo e a biomassa é barata torna-se altamente atrativa do ponto de vista do biorrefino.
Vamos comentar para onde vai o biorrefino. Muita gente tem falado sobre quão rápido os veículos elétricos estão se desenvolvendo. De fato, precisa ser assim. Dependemos do seu rápido desenvolvimento e sucesso. Ao mesmo tempo, presenciaremos a plataforma de biorrefino tornar-se bem diferente do que é hoje em dia. Acho que mais e mais plantas de etanol 1G serão agregadas a plantas de etanol 2G. Essas biorrefinarias agregadas também agregarão usinas de captura e armazenamento de gás carbônico fazendo com que essas plantas contribuam grandemente para que as emissões de CO2 sejam negativas. O que significa que ao sair dirigindo seu carro, você estará mitigando a emissão de carbono.
Imagine só, enquanto você dirige o seu carro, armazena CO2 no solo, mitigando as mudanças climáticas. Acho isso fantástico. E se compararmos isso a uma plataforma de propulsão elétrica, veremos também que o custo social se tornará ainda mais baixo. Assim, torna-se tão sustentável quanto, se não, mais sustentável, e tão barata quanto, se não, mais barata.
É provável que agora mesmo seja mais barata. Além disso, veremos o etanol tornar-se uma bateria líquida. O que quero dizer quando falo em bateria elétrica é que o veículos de célula de combustível com etanol da Nissan convertem etanol em eletricidade. Esses carros têm grande autonomia e são muito eficientes na estrada, tornando-se um novo tipo de híbrido. Não significa que não queiramos baterias nos carros movidos a eletricidade. Queremos sim, mas queremos muito mais porque estamos atrasados.
Esses tipos de carros a célula de combustível da Nissan vão se tornar uma alternativa na mitigação das mudanças climáticas, sendo um meio mais rápido para se lançar um maior número de veículos leves que não contribuem para as mudanças climáticas. Além do mais, precisamos descarbonizar o setor da aviação como falamos anteriormente. Como faremos isso? Bem, poderemos assistir nossa plataforma sucroquímica fabricar combustíveis de avião. Existem muitas iniciativas em andamento no momento e a porvir. O setor de aviação provavelmente terá sua capacidade multiplicada por seis de hoje até 2050. Isso somente será possível se criarmos uma plataforma sucroquímica que produza combustível de avião. Acho que veremos as biorrefinarias fornecendo para isso. Vamos tomar as carretas da Scania como exemplo concreto.
O etanol aditivado (ED95) é uma maneira de se introduzir alguns aditivos no etanol 100%, o que se pode permitir que se dirija uma carreta com motor de alta combustão movido a etanol. Estamos substituindo o Diesel pelo etanol com emissões muito mais baixas. O que é também muito atrativo. Temos, assim, uma trajetória. Temos uma tecnologia já disponível que pode ser amplamente implantada no setor de transporte de cargas pesadas. Isso abrange como se descarboniza muitas das parcelas mais difíceis do setor de transportes.
Antecipo, também, que vamos converter açúcar em proteína. Começaremos convertendo mais como proteína para animais, mas, provavelmente, também veremos proteína para seres humanos. O setor de carnes está, de fato, emitindo mais CO2 que o setor de transportes em todo o mundo. Portanto, veremos provavelmente maior necessidade de tornar o setor de carnes mais sustentável, o que pode ser ajudado pelo setor de biorrefino ao obter proteína a partir do açúcar. Além disso, à medida que a produção de petróleo está caindo, precisamos substituí-lo para criar materiais.
Assim, veremos também que criaremos mais produtos bioquímicos a partir dessas plataformas. Ela permitirá, de uma maneira mais ampla, a substituição de tudo aquilo que presenciamos sob a perspectiva do petróleo.
Por fim, mas igualmente importante, por sermos também muito confiantes em uma sociedade movida a eletricidade, essas biorrefinarias estarão produzindo muita energia elétrica. Estarão queimando resíduos que não são convertidos em açúcar para gerar estabilidade na rede de distribuição. Podem gerar mais eletricidade quando não houver vento e o sol não esteja iluminando. Então, veremos essas biorrefinarias criando estabilidade na rede de distribuição, o que permitirá mais lançamentos de veículos elétricos do que pelo sol ou pela energia solar.
Isso tudo se resume a uma única coisa, estamos apenas aproveitando a energia do sol de diversas maneiras. O vento está gerando energia. O sol produz vento. E o sol faz a planta crescer. São apenas diferentes formas de se capturar a energia do sol. É isso que significa o biorrefino. A Novozymes está presente no setor desde o início da década de 2000, em especial no setor de etanol a partir do amido e etanol 1G, e temos nos dedicado muito ao setor, tendo investido uma enorme soma de dinheiro.
No início dos anos 2000 colocamos também em marcha o etanol de segunda geração – a parte da celulose no biorrefino. Assim, estivemos nos dedicando muito a esse setor nos últimos 20 anos. Continuaremos a nos dedicar muito. Existe um potencial de crescimento muito grande. Mas temos um papel muito importante a desempenhar na solução dos problemas do CO2 no setor de transportes. Minha sugestão é que entremos juntos nessa realidade energética e resolvamos um dos maiores problemas que enfrentamos como uma espécie. Se não quisermos ter uma existência tão efêmera, sob uma perspectiva cósmica, precisamos fazer algo. Convidamos o mundo todo a se juntar a nós nessa jornada.
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