VIDA DE AMBIENTALISTA-ENTRE CONFERÊNCIAS E FLORESTAS.

Ser ambientalista e trabalhar com mudanças climáticas significa lutar para reduzir impactos e perdas, ou seja, o sucesso do seu trabalho começa lidando com o negativo - impactos e perdas sobre ecossistemas, espécies, vidas humanas. 

Além disso, trabalhamos com base em evidências, na ciência, no conhecimento. Mas as decisões políticas muitas vezes ignoram tudo isso. Vejamos dois grandes recentes casos de corrupção no Brasil, o “mensalão” e o “petrolão”, que envolvem três setores estratégicos: infraestrutura, energia e agronegócio. Somente a corrupção explica o porquê de termos feito escolhas insustentáveis sob o ponto de vista socioambiental e climático.       


Mudaram-se leis ambientais, os combustíveis fósseis passaram a ser a prioridade do setor de energia. E hoje a situação é mais crítica. No governo Temer, meio ambiente virou moeda de troca por votos no Congresso. É preciso muito trabalho para fazer frente a todos esses interesses e tentar colocar o Brasil no rumo correto, do desenvolvimento sustentável, de baixo carbono. 

O melhor aspecto da profissão é encontrar em seu caminho muita gente que compartilha os mesmos valores, que luta pelos mesmos ideais. Encontrar esta força ao nosso redor nos torna mais fortes e é fundamental para se fazer a diferença, gerar impactos e resultados.

O paulistano Carlos Rittl tem 48 anos. Formou-se administrador pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo e fez mestrado e doutorado em biologia tropical e recursos naturais, pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Atua há 20 anos na área ambiental e, nos últimos dez, dedicou-se ao tema de mudanças climáticas, tendo liderado a Campanha de Clima do Greenpeace no Brasil e o Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil.


CARLOS RITTL Quando tomei a decisão de ir para a Amazônia, sabia que estava abrindo um caminho inteiramente novo. Começava minha trajetória profissional em meio ambiente, sem ter o lastro de um curso superior na área. Só conhecia o ponto de partida. Não imaginava todo o caminho até hoje, onde chegaria e não planejei, naquele momento, nem mesmo os passos seguintes. 

Todas as mudanças de rumos, de emprego foram respeitando, sempre, meus valores, princípios e ideais e considerando onde achava que, com base em minha experiência e conhecimento, eu poderia realizar o melhor trabalho e provocar mais impacto positivo. 

Minhas expectativas foram, portanto, sempre dosadas conforme o momento e a posição que ocupava e é assim até hoje. Mas quem trabalha com questões socioambientais ou com mudanças climáticas sempre vê diante de si um desafio enorme, muito maior que as “próprias pernas”, ou seja, muitas mudanças, como em políticas públicas, não dependem apenas de você e de sua organização. 

Nesse sentido, o tempo me ensinou a graduar minhas expectativas, pois algumas frustrações podem ser grandes, se você não o fizer. Mas também tento, sempre, puxar a “barra para cima”, ultrapassar limites. 

Se alguém deseja trabalhar com o meio ambiente, venha e se prepare para ter muito trabalho. O desafio é imenso, de longuíssimo prazo, mas exige já hoje cada vez mais profissionais empenhados e das mais diferentes áreas do conhecimento. Haverá muitas oportunidades.
                                                                



 Até cerca de oito anos atrás, a agenda global de clima era uma agenda de riscos e custos – quanto custa e quem vai pagar pela redução de emissões ou para estratégias de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. De lá para cá, e cada vez mais, fala-se também das oportunidades que o desenvolvimento com base em redução progressiva de emissões de gases de efeito estufa traz para a economia. 

A economia de baixo carbono é mais competitiva e eficiente. E se vale muito do conhecimento, tradicional e científico, mas também da inovação, principalmente a inovação disruptiva, que quebra paradigmas e que nos leva e nos levará a grandes saltos em setores como tecnologia da informação, energia, finanças, transportes, alimentos, comunicação etc. E nós, no terceiro setor, também precisamos de novos e bons profissionais para lidar com este imenso desafio.

                                          



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