DESFLORESTAMENTO MUDA O CLIMA DO PLANETA MAIS RÁPIDO DO QUE SE ESPERAVA.

De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, em 2016, 51% do total das emissões nacionais foram em decorrência da supressão de florestas. O equivalente a 218 milhões de toneladas de gás carbônico.
Um novo estudo, conduzido por um time internacional de pesquisadores com participação do Instituto de Física da USP (IFUSP) e da UNIFESP concluiu que o impacto no desmatamento pode ser ainda mais grave.
Ao calcular as consequências da destruição das florestas, pesquisadores em geral levam em consideração o carbono, que constitui 80% do tronco das árvores; o metano, liberado no processo de decomposição; e o “carbono negro”, que são partículas resultantes da queima incompleta de compostos orgânicos.
                                                                     
A conta, porém, está incompleta. Toda árvore, no processo de fotossíntese, liberam na atmosfera uma série de compostos gasosos, como o isopreno, que são chamados BVOCs (sigla em inglês para Compostos Orgânicos Voláteis Biogênicos). Parte desses compostos, quando na atmosfera, passam por reações químicas e formam partículas maiores, que refletem a radiação solar para o espaço e resfriam o clima.
“Se você matar uma floresta e plantar pasto, que não emite esse composto, acaba trocando um ambiente que resfria o clima por um que não resfria”, afirma um dos autores do estudo, físico Paulo Artaxo, do IFUSP. “Foi o primeiro trabalho que calculou isso certinho”.
Dessa forma, em uma situação hipotética de desmatamento total, o aumento da temperatura seria de 0.8ºC. Pode não parecer muito, mas se considerar que todas as emissões de gases de efeito estufa decorrente da atividade humana desde 1850 provocou um aumento médio de 1.2ºC, este cenário seria catastrófico.
Por outro lado, o estudo reafirma o melhor caminho conhecido para combater as mudanças climáticas. “Hoje não existe nenhuma tecnologia para reduzir o aquecimento global melhor que replantar a floresta”, conta Artaxo. “Pode fazer qualquer coisa que quiser, o mais eficiênte, além de parar de queimar combustíveis fósseis, é plantar floresta”.
O poder das árvores não é bem uma novidade. A China mantém o maior programa de reflorestamento do mundo, investindo mais de US$ 100 bilhões na última década com árvores. Já o Brasil, se comprometeu no Acordo de Paris a recuperar 12 milhões de hectares de florestas, uma área equivalente ao estado de São Paulo, até 2030.
“As questões que envolvem o aquecimento global são simples. Difícil é cumprir esses compromissos”, diz Artaxo. “Mas a pressão do agronegócio da América Latina e África é enorme. Não é à toa que as florestas estão sendo destruídas. É para abrir caminho para plantações, áreas de pastagens. É um compromisso complicado”.

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