CRESCE NO BRASIL O MOVIMENTO CIÊNCIA CIDADÃ QUE AJUDA A PRESERVAR A BIODIVERSIDADE.

No Brasil, destacam-se as plataformas Táxeus e Biofaces, utilizadas para registros de aves, mamíferos e outros exemplares de fauna; além de eBird e WikiAves, populares entre os observadores de pássaros. 

Totalmente colaborativos, essas ferramentas on-line têm em comum o fato de disporem de um amplo acervo sobre fauna nativa, com fotos, mapas de incidência e sons originais. Para serem aceitos pela comunidade, os registros precisam ser submetidos primeiro à análise de especialistas e/ou membros mais experientes.

 Contando com mais de 28 mil usuários, a WikiAves recebeu, só no ano passado, cerca de 900 novas fotos e 62 sons de pássaros por dia. Em seu banco de pássaros brasileiros, há registros de 1880 variedades diferentes. Segundo estimativa do Comitê Brasileiro de Registros Ornitólogos (CBRO), o total de espécies de aves do Brasil é de 1919. 

Informações importantes como localidade, data e hora do avistamento permitem que tais registros se tornem dados científicos valiosos para pesquisadores - e que sirvam, inclusive, de argumento para verificar dados. 

Foi a partir da análise de registros do WikiAves, por exemplo, que biólogos da PUC-Rio redefiniram recentemente a área de ocorrência de cinco espécies de pássaros. 

Pertencentes ao gênero Drymophila e conhecidos popularmente como choquinhas, eles costumam ter como habitat uma área da Mata Atlântica litorânea muito mais ampla do que indicava cem anos de literatura especializada em ornitologia. Uma dessas espécies chega a ocupar uma área 183 quilômetros maior do que registros sobre o tema acusavam.

Outra pesquisa do mesmo gênero, também feita em 2016, baseou-se em dados coletados por leigos para descobrir que o caneleiro-enxofre (Casiornis fuscus), espécie de pássaro endêmica do Nordeste brasileiro e tida como sedentária, possui, na verdade, comportamento migratório. 

Atualizações desse tipo permitem calcular a variação do tamanho das populações e fazer levantamentos locais mais precisos sobre migrações, contribuindo para a preservação da espécie. 

É comum que projetos de ciência cidadã envolvam uma grande escala espacial, ou grande período. Analisar uma espécie migratória ou o comportamento de uma comunidade regional demanda um número considerável de idas a campo para coleta de dados. 
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Em ambientes marinhos, as expedições costumam envolver infraestrutura e ainda maior mobilização de pesquisadores. Abrir essa possibilidade para o público explorá-lo por si só é visto como forma de aumentar a abrangência da coleta de informações, ao mesmo tempo em que se economizam recursos. 

O grupo de Facebook do projeto “Onde estão as baleias e golfinhos?” existe há quatro anos e é um exemplo de esforço nesse sentido. Ele já recebeu 277 relatos de animais marinhos no Rio de Janeiro, segundo estima Liliane Lodi, doutora em biologia marinha pela Universidade Federal Fluminense e coordenadora da iniciativa. 

Para treinar o público nos protocolos científicos para coleta de dados, os projetos costumam contar com cursos presenciais e materiais de ensino à distância.

 Uma atividade do projeto Mantas do Brasil, focado na observação de raias manta, oferece videoaulas para que mergulhadores amadores aprendam como registrar a espécie. Quem é aprovado com 70% de acertos em um questionário on-line recebe o certificado de Cidadão Cientista. 

“Certamente esses dados podem integrar relatórios de unidades de conservação e de órgãos públicos relacionados ao meio ambiente, e podem compor uma série temporal que permitirá aos gestores entender as modificações que estão ocorrendo no ambiente e nos seres vivos ao longo do tempo”, diz Natalia Ghilardi-Lopes, responsável pelo Grupo de pesquisa em Ciência Cidadã da Universidade Federal do ABC.

 Para a pesquisadora, o envolvimento com esforços de ciência cidadã pode despertar nos participantes também a sensibilização para problema ambientais e iniciativas independentes de conservação. “A educação ambiental também é um efeito importante, podendo levar os cidadãos não só a compreenderem melhor os seres vivos e suas relações com o ambiente, mas também a se engajarem na conservação destas espécies.

 Esses benefícios não são facilmente mensuráveis a curto prazo, mas podem ser relevantes para o futuro.”




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