O ELEVADO CUSTO AMBIENTAL DA PRODUÇÃO PECUÁRIA NO MUNDO.

A pecuária responde por 40% dos meios de subsistência e segurança alimentar de 1,3 bilhão de pessoas. Mas isso tem um preço ambiental muito grande, que inclui desmatamentos, consumo excessivo de água, poluição ambiental, emissão de gases do efeito estufa e perda da biodiversidade natural.

A proteína animal, com destaque para a carne (há também ovos e leite, por exemplo) – principalmente a cozida ou assada –, foi uma das principais responsáveis pelo cérebro desenvolvido que o Homo sapiens possui hoje. A princípio oriunda da caça, sua disponibilidade aumentou exponencialmente com a domesticação de animais, como os bovinos, iniciada há cerca de 10 mil anos. Desde então, a pecuária não parou de crescer.

Os números atuais da agropecuária impressionam. O setor emprega mais de 26% dos trabalhadores do mundo, mesmo sem incluir no cálculo quem atua ao longo da cadeia produtiva da carne, como matadouros, empacotadores, distribuidores e varejistas. “A pecuária contribui com 39% da proteína e 18% da energia consumida pela população humana em nível global, proveniente de 17 bilhões de animais”, diz o zootecnista Paulo César de Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
                                                           

 Esses números deverão continuar a crescer graças, em parte, ao aumento do mercado consumidor por causa do incremento demográfico e da renda da população. Segundo a FAO, em 2016 foram produzidas no mundo 317 milhões de toneladas de carne, volume que deverá saltar para 465 milhões de toneladas em 2050. Atingir tais níveis de produção implica prover terras para o pastoreio do gado e a plantação de forragens, o que, por sua vez, exige áreas desmatadas, água, fertilizantes e outros insumos.­ 

Os impactos ambientais da pecuária. “Essa atividade está causando e acelerando as mudanças climáticas tanto de forma direta, liberando gases de efeito estufa ao longo da cadeia de produção, quanto indiretamente, desencadeando o desmatamento e mudanças de grande monta no uso da terra”, diz a bióloga Paula Cals Brügger Neves, do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Ela é também a grande responsável pelo empobrecimento, fragmentação e perda de habitats, fatores que lideram a atual queda vertiginosa de biodiversidade.”


Alguns dados da FAO ajudam a dar uma ideia dos impactos ambientais da pecuária. É o caso do uso da terra. Essa atividade é de longe a que precisa de mais espaço para se desenvolver. A área total ocupada por pastagens é equivalente a 26% da superfície terrestre – sem contar a parte coberta de gelo. Por seu lado, as plantações de alimentos representam 33% das terras aráveis. Ao todo, a produção de gado representa 70% de todas as áreas agrícolas. No Brasil, onde há mais bois do que pes­soas – 218 milhões ante 207 milhões –, as pastagens ocupam cerca de 172 milhões de hectares, além de 31 milhões de hectares de plantações de soja, cultura ligada à produção de carne (dados de 2015).


Não surpreende, portanto, que a pecuária seja responsável por grande parte dos desmatamentos do país. “Mais de 80% do desflorestamento no Brasil, entre 1990 e 2005, foi causado pela conversão de terras em pastos”, diz Paula. “Em seis países analisados na América do Sul, a expansão das pastagens causou a perda de ao menos um terço das matas.” Isso leva à destruição de habitats e à consequente redução da biodiversidade, pondo em risco ou extinguindo muitas espécies de animais.

A liberação de gases do efeito estufa é outro impacto negativo da pecuária. A estimativa é de que essa atividade é responsável por algo entre 6% e 32% do total das emissões no planeta. O dado da FAO para esse item fica a meio caminho desses extremos: 14,5%. A grande diferença entre esses números está ligada à metodologia e à base de cálculo. Se forem consideradas apenas as emissões diretas, o índice será menor. No caso de serem incluídas as liberações causadas pela produção de forragens, fertilizantes, adubos, agrotóxicos e a derrubada de florestas, a taxa será maior.

“A consciência ecológica na produção agropecuária é muito maior que há 20 anos, seja no Brasil ou no mundo”, garante. “Assuntos como os gases do efeito estufa e o aquecimento global elevaram a questão ambiental a novo patamar.” De acordo com ele, no Brasil, em particular, toda a discussão sobre legislação e código florestal vem produzindo profundas transformações com relação a esse tema. “Estatísticas recentes da Embrapa e da Nasa confirmam que o país está conservando suas­ áreas”, diz. “Claro que há problemas, e são muitos. Mas muito longe do que víamos há 20 anos, quando derrubar matas e abrir fazendas era o modus operandi, inclusive com apoio governamental.”


Comentários