TRANSPLANTE DE FEZES COMO ÚNICA SOLUÇÃO CONTRA BACTÉRIAS RESISTENTES À ANTIBIÓTICOS.

Cientistas têm estudado a aplicação de técnicas direcionadas para a alteração rápida de microbiotas como forma de tratar doenças. Uma das mais conhecidas é o transplante de fezes. 

Ele tem sido usado em casos nos quais infecções hospitalares levam à propagação de bactérias resistentes a antibióticos, como a Clostridium difficile, no intestino de pacientes, levando a fortes diarreias, febre, perda de peso, cãibras e dores no abdome.
                                                                     solução de microbiota fecal

Um tratamento que vem sido testado inclusive no Brasil é o uso de uma solução composta por substrato fecal de indivíduos saudáveis e soro fisiológico. 

Cerca de 300 mililitros do líquido são lançados no intestino delgado do paciente doente por colonoscopia, via sonda, em um procedimento que dura cerca de 15 minutos. Dessa forma, as bactérias que não causam danos ao hospedeiro competem com as que estão fazendo com que adoeça, estabilizando a microbiota intestinal.

O nome e a ideia estão longe de serem atraentes. Mas o transplante de microbiota fecal (FMT) é um tratamento que oferece a possibilidade de cura para infecção intestinal onde outros métodos se provam limitados.

 A medicina chinesa já prescrevia medicação fecal há cerca de 3.000 anos, no mais antigo livro de receitas do país, a “Coleção de 52 receitas”. Em anos recentes, médicos e hospitais nos Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e Brasil vêm testando e utilizando a introdução de micro-organismos saudáveis em pessoas doentes por meio da transferência de fezes.

Sua aplicação principal se dá em casos de contaminação hospitalar causadas pela bactéria Clostridium difficile. 

Ela surge em indivíduos que passam por tratamento com grande uso de antibióticos, que acabam aniquilando muito da flora ou microbiota intestinal, composta de trilhões de organismos, benéficos ou não. Ao devastar a microbiota, a medicação facilita a atuação da bactéria, que infecta meio milhão de americanos a cada ano e provoca 30 mil mortes anuais, também nos Estados Unidos.

Há relatos de casos extremos em que o paciente vai ao banheiro 15 vezes ao dia, com febre, perda de peso e cãibras e dores no abdome. 

Segundo o gastroenterologista Luiz Gonzaga Vaz Coelho, coordenador do Centro de Transplante de Microbiota Fecal do Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), projeto pioneiro no país, esse tipo de infecção afeta 20% dos pacientes internados. Aproximadamente 5% podem apresentar quadros de diarreia. 


“Tudo começa quando a pessoa usa algum antibiótico para tratar uma doença. Como efeito colateral, o remédio mata uma parte excessiva dos trilhões de bactérias presentes no intestino. Isso permite que uma bactéria patogênica, a Clostridium difficile, reproduza-se, causando dores e diarreias terríveis”, afirmou o médico ao jornal O Tempo. 

Experimentos clínicos em diversos países também sugerem que o transplante de microbiota pode contribuir para o combate a condições como colite ulcerativa, síndrome do intestino irritável, obesidade, mal de Parkinson, esclerose múltipla, ansiedade e depressão. Entretanto, são apenas pesquisas preliminares ou relatos anedotais que carecem de comprovação científica. 

No Brasil e no exterior, ainda é raro encontrar profissionais e locais habilitados para este tipo de tratamento.
Nos EUA, a FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora de alimentos e remédios, decidiu permitir o tratamento em casos agudos de infecção de C. difficile em 2013. O procedimento permanece sem aprovação pelo órgão, entretanto, e os bancos de fezes não são regulados. Com isso, esse tipo de tratamento não pode ser feito por meio de plano médico.


Comentários