O MODO DE VIDA INDÍGENA REPERCUTE NA MANUTENÇÃO DA BIODIVERSIDADE.

É notável a articulação dos sistemas de conhecimentos indígenas com seus modos de vida em associação com práticas que propiciam e contribuem, fortemente, para conservar a biodiversidade, bem como para produzi-la ou incrementá-la dado o apreço ou preferência, flagrante, pela diferença. 

A paisagem amazônica resulta de milênios de intervenção humana, o que significa que diversas plantas importantes ou úteis para nós — como a castanha, o pequi, o açaí, a mandioca — e a presença das chamadas terras pretas, que são solos muito férteis, decorrem da ação antropogênica, ou seja, de técnicas humanas de manejo. 

Esses indícios sugerem uma antiga e contínua ocupação desses territórios. Evidentemente, não é qualquer humanidade cujo modo de vida é capaz de produzir como efeito de sua existência algo tão majestoso quanto a floresta mais biodiversa do mundo. Nunca foi tão verdadeiro dizer que no Brasil tem muito fazendeiro para pouca terra, muita mineradora para pouca montanha, muito barrageiro para pouco rio, muito agrotóxico para pouca vida..

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O reconhecimento crescente do papel dos povos indígenas na ampliação da diversidade da fauna e da flora, por meio de seus conhecimentos e formas únicas de viver e ocupar um lugar, é um dos caminhos para abordar a importância das terras indígenas, sobretudo num cenário no qual se multiplicam as catástrofes ambientais que projetam um futuro planetário desalentador, cada vez mais pobre em vida. Com efeito, se há florestas em pé é porque há povos indígenas que as conservam.

São eles também que as protegem contra a ação predatória das invasões de madeireiros, garimpeiros, grileiros, fazendeiros, enfim, de todos aqueles que motivados pela cobiça preferem o extermínio dos povos e do mais rico ecossistema do mundo que, sem dúvida, são garantias da viabilidade da vida na Terra. 

Um benefício incalculável, que num raciocínio razoável deveria ser de interesse geral, produzido por tão somente 13% do território nacional. Assim, afastamos e desfazemos um equívoco bastante repisado, seja por má fé ou desconhecimento, quando não as duas coisas, segundo o qual os indígenas estão onde há profusão de jazidas minerais e de terras férteis que deveriam estar disponíveis para o avanço agropecuário, como se fosse aleatória essa relação de causalidade entre presença indígena e riqueza natural.

Não é demais lembrar alguns dados sobre a disparidade da distribuição das terras indígenas pelo país e a importância de seguir com a política de demarcação. Cerca de 45% da população indígena brasileira que vivem em terras indígenas está fora da Amazônia Legal, áreas nas quais se vive uma situação histórica de confinamento e luta constante pelo território. De um total de 297 terras indígenas fora da Amazônia Legal, 143 ainda não tiveram seu processo de reconhecimento finalizado. Essas terras representam menos de 2%  da área total de terras indígenas no país, embora abriguem 45% da população.

É suficiente olhar um mapa para ver que, não raro, é uma linha seca que separa os territórios indígenas do avanço do desmatamento, uma prova cabal de que onde vivem os povos indígenas se desmata menos (nos últimos 40 anos mais de 20% da floresta Amazônica foi desmatada, por outro lado, todas as terras indígenas juntas perderam nesse período menos de 2%), protegendo a floresta do avanço dos maiores agentes responsáveis pela deterioração do meio ambiente.  

Uma a cada oito espécies está ameaçada de extinção. Essa é uma das conclusões alarmantes publicadas pelo relatório do IPBES, a Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (2019). Resultado de uma avaliação global sobre biodiversidade de ecossistemas, os especialistas alertam sobre o ritmo sem precedentes do desaparecimento das espécies, consequência direta da ação humana.

Evidentemente, os impactos não serão apenas "ambientais" ou exclusivos a uma porção do mundo. A vida está sendo deteriorada em uma velocidade centena de vezes maior que a natural. Os efeitos de nossas ações se voltarão contra nós, uma vez que dependemos da biodiversidade: por exemplo, a humanidade não passará incólume ao apocalipse dos insetos. Pensemos no caso dos polinizadores e o impacto que teria o desaparecimento deles para a polinização de frutas e leguminosas. O que vai ser do mundo sem os insetos? A repercussão desse desaparecimento massivo afetará o mundo inteiro e dificultará ainda mais o combate à fome, à pobreza, ao acesso à água, dentre outras lutas. 

O desmatamento na Amazônia, falsamente propagandeado como essencial para o sucesso da agropecuária, é ainda muito rentável para quem cria gado, dado o afrouxamento da fiscalização e a relutância em punir aqueles que transgridem as leis ambientais. Sabe-se que, geralmente, o processo acontece em duas etapas: as florestas são derrubadas para a criação de pasto e as madeiras são vendidas; depois esses pastos são, paulatinamente, convertidos em plantações, vendidas para algum produtor de soja. 

Comentários

  1. Os índios tomam conta da floresta, sabem que precisam cuidar da terra e da sua diversidade
    biológica para sobreviverem. Os índios controlam ou fazem barulho contra os madeireiros
    e não deixam os homens da agropecuária.

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