MILHARES DE GARIMPEIROS JÁ ESTÃO EM TERRAS INDÍGENAS EXPLORANDO OURO.

Atualmente, mais de 15 mil garimpeiros ilegais exploram ouro na maior terra indígena brasileira. O ouro se tornou em 2019 o segundo maior produto de exportação de Roraima sem que o Estado tenha uma única mina operando legalmente, segundo reportagem da BBC Brasil. Dário pede a retirada imediata dos garimpeiros ilegais: “mas como o governo Bolsonaro é a favor [da exploração] isso dificulta muito. E só o governo que pode fazer essa desintrusão”, avalia. 

Não é a primeira vez que há invasão garimpeira no território. Em 1986, 40 mil garimpeiros estiveram na TI. Reportagem do jornal O Globo revelou como essa nova corrida pelo ouro na região deixa um rastro de “tensões, violência, conflitos e destruição ambiental” — atualmente, são cerca de de 23 mil yanomamis vivendo em Roraima e no Amazonas. 
Vista aérea de garimpos ilegais na TI Yanomami, próximo à comunidade Ye’kwana (Foto: Rogério Assis/ISA)

“Uma coisa que quero deixar bem clara é que as lideranças que estão denunciando estão correndo risco. Eles dizem: ‘se você continuar denunciando a gente vai pegar você, vai bater em você, vai matar você’, é assim que os garimpeiros estão falando para alguns amigos deles para deixar recado para quem está denunciando o garimpo”, revela. 

Quando algum projeto ou empreendimento estiver querendo fazer mineração em terra indígena, por exemplo, no protocolo consta que antes tem que consultar os Yanomami. Quando tiver um interessado [em explorar a terra indígena] ele tem que enviar um projeto para Funai de Brasília, a Funai de Brasília vai consultar as regionais que vai consultar as organizações [indígenas], que fala com as lideranças locais que conversa com a comunidade”, explica. “Esse tem que ser o procedimento do protocolo que a gente fez. Esses protocolos servem para reforçar a necessidade prática da proteção ambiental do nosso território e monitorar o desmatamento, o impacto ambiental, e destruição, enfim, mostra como cuidamos do nosso território”.

Atualmente, o governo Bolsonaro prepara um projeto para legalizar a mineração em terra indígena, o que pode afetar um terço das TIs no país

O governo brasileiro tem que cumprir o papel de retirar os garimpeiros. Quando eles demarcaram a terra Yanomami em 1992, o governo federal tirou todos os garimpeiros da nossa terra. Agora a gente tem que ter uma ação pesada para retirar os garimpeiros imediatamente. Mas como o governo Bolsonaro é a favor [da exploração] isso dificulta muito. E só o governo que pode fazer essa desintrusão. Vai precisar de mais de 300 homens para tirar esses garimpeiros da terra Yanomami. Tem que ser uma operação muito grande. Tirar eles de lá é dever do Estado, em respeito aos direitos dos povos indígenas, está na constituição de 1988, artigo 231, isso está claro e o presidente tem que cumprir o seu dever, que na minha opinião está descumprindo porque 20 mil garimpeiros estão nas terras Yanomamis e não tem como esconder 20 mil pessoas.



Hoje tem uns 20 mil garimpeiros na terra Yanomami trabalhando lá. São muitos homens [garimpeiros] explorando a nossa casa. E isso não é a mineração, é o garimpo ilegal na terra Yanomami. Mineração não chegou ainda, mas já está prejudicando o nosso território. Onde está mais grave é na região do Rio Uraricoera, ali tem comunidades correndo risco.


Onde tem a presença de garimpeiros, as ameaças acontecem muito. Eles ameaçam as mulheres, crianças e os adultos também. Eles têm arma de fogo. Tem ameaça, sim. Uma coisa que quero deixar bem clara é que as lideranças que estão denunciando estão correndo risco. Eles dizem: “se você continuar denunciando a gente vai pegar você, vai bater em você, vai matar você”, é assim que os garimpeiros estão falando para alguns amigos deles para deixar recado para quem está denunciando o garimpo. Mas a gente tem que denunciar, porque o garimpo está dentro do nosso território, eles estão presentes dentro do território Yanomami. E a nossa terra está demarcada. Eles estão perto das comunidades. Tem alguns que estão a cinco quilômetros. O garimpo está ao redor das comunidades.  

Os barracões que são as casas dos garimpeiros. Cada garimpo leva os seus equipamentos. Rede, alimentação, barco, maquinários, combustível, levam tudo. Quem está apoiando com equipamentos são os empresários, eles bancam tudo. Os motores e barcos são bancados por empresas.

Hoje, a parte de cima do Rio Uraricoera e também o Rio Mucajaí é a parte mais problemática. Os principais são esses. Eles estão subindo até os igarapés, onde os Yanomami estão morando. Lá eles têm pistas clandestinas. Eles mesmos fazem. 

Os garimpeiros ficam cavando os rios com maquinário pesado. Colocam canos nos rios para puxar água. Cortam a terra, enchem os rios de poluição com mercúrio. Tem uso de prostituição e alcoolismo. Aliciamento dos Yanomami. Eles têm alimentação, rádio, televisão. Eles chegam na comunidade e prometem muito. Dão arroz, cachaça, comida, espingarda, cartucho. Falam para eles [indígenas] que são garimpeiros bons. A maioria dos Yanomami são contra, é a minoria que cai no aliciamento.  

O ouro extraído da nossa casa, eles levam para Boa Vista. Lá eles fazem uma espécie de lavagem e mandam para outros estados e depois para Europa. São vários empresários que compram ouro, mas a gente não conhece, não temos acesso. Há três ou quatros anos, aqui em Boa Vista a Polícia Federal investigou alguns empresários. Segundo ela, o caminho do ouro que sai da terra Yanomami vai para Boa Vista, depois para Manaus, Maranhão, e do Maranhão para São Paulo. O ouro Yanomami anda por esses caminhos. 

Os povos indígenas do Brasil são contra a mineração em terras indígenas. Porque a política indígena não é a favor da mineração. A minoria, alguns parentes, são envolvidos com os políticos. São manipulados por políticos. Durante 15 anos venho lutando e denunciando garimpo no nosso território. Também atuamos com saúde e educação do nosso povo. Hoje sou vice-presidente da associação Hutukara Yanomami e um porta-voz do povo.









Comentários

  1. O governo brasileiro se prepara para liberar o garimpo e a mineração em terras indígenas e
    piorar o conflito de terras na Amazônia.

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