PESQUISADOR DO IMAZON FALA SOBRE OS EFEITOS DA DEVASTAÇÃO NA AMAZÔNIA.

Quais medidas tiveram mais impacto sobre o desmatamento nos últimos anos?

 PAULO BARRETO O desmatamento vem crescendo desde 2012. 
O principal marco naquele momento foi uma anistia ao desmatamento ilegal. Outro fator foi a redução de algumas unidades de conservação pelo governo, que aconteceu nesse período. Isso aconteceu para facilitar o licenciamento de hidrelétricas, no rio Tapajós. Apesar de a hidrelétrica não ter sido construída, isso passou a mensagem de que, se você pressiona, o governo reduz as áreas de preservação. Tem também um componente da crise financeira. 

No auge, com Dilma, teve uma redução de recursos do governo para a fiscalização. E o Temer aprovou uma medida que estendeu um caso para regularizar posse irregular. Parte disso, obviamente, é grilagem de terras. São medidas que tornam as regras mais frágeis e dificultam a proteção florestal.

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Como o governo Bolsonaro se diferencia dos anteriores? 

PAULO BARRETO  Um elemento novo é esse ataque do governo ao Ibama, com desqualificação do órgão, e a efetiva redução de fiscalização. O Inpe já está apontando aumento do desmatamento. É uma retórica contra o órgão que o vulnerabiliza na ponta.

 O agente vai fiscalizar, e as pessoas dizem: “aqui não, tenho apoio do Bolsonaro”. Alguns estados estão com governadores novos, aderindo a essa retórica. É mais uma forma de ataque. No Pará, o governo acabou de aprovar uma medida que facilita a ocupação de terras públicas. 


Quais são as perspectivas sobre a questão do desmatamento para o futuro? 

PAULO BARRETO A tendência está sendo ruim. Mas começam a surgir reações, do lado da imprensa internacional e da nacional. O Brasil quer tomar medidas para ampliar exportação para a União Europeia, por meio do Mercosul. 

Essas negociações podem ficar complicadas nesse contexto, e já está aumentando a pressão sobre o setor privado. Parte do setor privado que tem a perder com o aumento do desmatamento se manifesta contra. Mas eu diria que essa manifestação não tem sido suficiente para mudar a direção. O governo continua antagônico sobre a questão ambiental. 

Se depender do setor público, não tem nenhum indicativo de mudança na situação. Para que não seja catastrófica, ela vai depender mais do setor privado. Tem havido notícias de programas de multinacionais liberando linhas de financiamento melhores para produtores, condicionadas às melhores práticas ambientais. 

Isso é bem interessante, mas também depende de controle. Quando o governo investiu em fiscalização, os produtores investiram em produtividade, que aumentou na região amazônica. 

O pessoal diz que ambientalismo é coisa da esquerda, mas uma das revistas mais respeitadas por liberais, a Economist, tem uma capa bem forte sobre o desmatamento. E ela fala que, se o Brasil continuar assim os compradores devem boicotar. É uma manifestação bem séria. Vamos ver o que vem daí.

Comentários

  1. Um elemento novo do mandato Bolsonaro é a desqualificação do IBAMA para força-lo
    a não fiscalizar. O agente fiscal vai fiscalizar e as pessoas dizem: "Aqui não, tenho o apoio
    do Bolsonaro e dos governadores do Ácre, Pará, e do Amazônas.

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