A PANDEMIA BRANDA NA ÁFRICA REFORÇA A HIPÓTESE QUE OS AFRICANOS JÁ TENHAM CERTA IMUNIDADE À PATÓGENOS .

Enquanto em outros continentes o número dos contágios e óbitos explodiam, a África foi poupada de uma alta taxa de mortalidade pelo coronavírus. E isso, apesar de, em cidades como Dacar ou Lagos, os cidadãos se acotovelarem, muitos viverem na pobreza e em condições de higiene preocupantes.

Um grupo de cientistas publicou na revista Science uma análise dos possíveis motivos para esse transcorrer relativamente brando da pandemia na região. Um dos fatores apresentados é que "medidas como restrições de viagens, toques de recolher e fechamento de escolas foram aplicadas cedo na África, em comparação com outros continentes.



Deve haver outros motivos para o cenário mais extremo não ter ocorrido, já que "a maioria trabalha no setor informal, por exemplo em feiras tradicionais, onde não há como impor medidas extremas de confinamento", rebate o grupo de pesquisadores.

A idade poderia ser um destes motivos. A média etária no continente africano é de 19,7 anos, a metade da dos Estados Unidos, e, apesar de o Sars-Cov-2 também infectar jovens, em geral os mais idosos é que são hospitalizados em estado grave e morrem.

As taxas de contágio baixo podem ter igualmente a ver com a idade, pois a maioria dos casos assintomáticos é entre jovens. Por não se sentirem doentes, eles se submetem com menor frequência a testes e exames, sobretudo se o sistema de saúde do país já é debilitado e as capacidades de testes, reduzidas. 

Os pesquisadores sugerem que a imunidade a patógenos possa ser outro fator para o quadro da pandemia na África. "Cada vez mais se reconhece que o sistema imunológico não é determinado apenas pela genética, mas também por fatores ambientais, como a exposição a microrganismos e parasitas. Assim, ele é treinado para se proteger contra patógenos invasores."

 Vermes, por exemplo, vivem mais ou menos em harmonia, como parasitas, nos corpos de muitos africanos. Essa convivência só é possível por os helmintos não provocarem reação forte do sistema imunológico do hospedeiro, sinalizando-lhe, por meio de determinadas secreções, que não há motivo para alarme.

"Pode ser que assim o contágio com a covid-19 seja melhor tolerado", especula Hoerauf. Uma reação imunológica exagerada é uma das causas conhecidas para os casos especialmente violentos de covid-19.

Aids e fome também matam na África,  os jovens são os mais duramente atingidos: em especial para as crianças, a carência de alimentos e medicamentos têm muitas vezes consequências fatais. Assim, já em maio a organização Unaids já apontava gargalos de abastecimento de remédios antirretroviras, indispensáveis para a terapia da aids.

A Unaids e Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que as medidas contra a pandemia podem causar 500 mil óbitos adicionais por aids. E, em julho, a organização humanitária Oxfam advertia que esse seria também o motivo de 12 mil mortes diárias por inanição, até o fim de 2020. Seis dos dez "hotspots extremos da fome" definidos pela Oxfam se situam no continente africano.


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