MULHERES RELIGIOSAS QUE CRUZARAM O RIO ARAGUAIA NA AMAZÔNIA LEVANDO OUTROS EM BUSCA DE UMA NOVA ERA.

Amazônia abriga até hoje comunidades santas fundadas por mulheres que desafiaram a lógica do desenvolvimento na região e atravessaram o rio Araguaia, em busca da terra prometida. À frente de romeiros e guiadas por espíritos, elas percorreram a pé, por décadas, milhares de quilômetros entre 1950 a 1970. Negras e caboclas, estas líderes religiosas deixaram sítios e povoados de Goiás e do Nordeste, em anos diferentes, para seguir o rumo ditado por seus sonhos e visões.

As comunidades criadas por elas, no século passado, ainda sobrevivem em um modelo regido pelo matriarcado, no qual as tradições são respeitadas. Devotos acreditam que as matas descobertas depois do Araguaia fazem parte da profecia de Padre Cícero, de Juazeiro do Norte, no Ceará. A história da fé, porém, se mistura atualmente à da cobiça. Imensas plantações de soja e áreas de pesquisas minerais cercam o reduto santo onde mulheres desbravadoras, que conduziam romarias, imaginavam ser o Reino dos Céus.

                                                  


As romarias eram movimentos milenaristas, aguardavam a vinda do Messias para o juízo final e o início de outros tempos. Esses grupos tinham na ponta da língua o capítulo 20 do Apocalipse, mostrando que um anjo acorrentou o diabo e o jogou “no abismo”, para permitir uma nova era. 

A trajetória de cinco mulheres que chegaram à Amazônia, foi recontada, após enfrentar todo tipo de dificuldade. Maria José Vieira de Souza, a Maria da Praia, fundou o povoado de Romaria, antiga Buriti Alegre, após uma peregrinação pela Amazônia, iniciada em 1964 e encerrada uma década depois. Maria via a floresta como sua própria religião. Batizava menino, dava extrema unção para velho. Pregava a obediência a Nossa Senhora e controlava o grupo. Previu que chegaria o tempo em que apareceriam doenças que médico nenhum conhecia. Seria a covid-19?

                                                          Maria da Praia.


No caminho “soprado” pelos espíritos, Maria viajou de São Miguel do Araguaia, em Goiás, a Cumaru do Norte, 861 quilômetros em linha reta, durante dez anos. Fez o trajeto a pé, em carro de boi, em lombo de animal, em carroceria de caminhão. Morreu em 1974.

Imbuída da mesma missão, Antonia Barros de Souza, a Beata Antonia, percorreu 80 quilômetros de Filadélfia a Araguaína, hoje Tocantins. E Ana Nunes Figueira, Dona Ana, andou de Mara Rosa, em Goiás, a Santana do Araguaia, no Pará, 704 quilômetros.

De Nova Iorque, encravada no Maranhão, Lucelina Gomes, conhecida como Juscelina, atravessou o Tocantins, morou no garimpo de Cristalândia e, dois anos depois, se mudou para Muricilândia, mil quilômetros adiante. Maria Mendes da Silva, por sua vez, saiu de Mirador, outra cidade maranhense, viveu numa ilha do Araguaia e retornou a Aragominas. Lá se foram também mil quilômetros. Todas essas viagens tinham algo de alucinante e misterioso.

                                                       Juscelina.



Comentários

  1. A história da fé, porém, se mistura atualmente à da cobiça. Imensas plantações de soja e áreas de pesquisas minerais cercam o reduto santo onde mulheres desbravadoras, que conduziam romarias, imaginavam ser o Reino dos Céus.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Nossa intenção é proporcionar aos leitores, uma experiência atualizada sobre os fatos globais que possam ser discutidos
e possam provocar reflexões sobre o modelo de sustentabilidade
que desejamos adotar para garantir agora e no futuro a qualidade
de vida para todas as espécies da Terra.