MUDANÇAS CLIMÁTICAS ALIMENTAM UMA CRISE EXISTENCIAL QUE RESULTA EM AUMENTO DE TRATAMENTOS PARA A ANSIEDADE.

Na prateleira do Trader Joe’s, Alina Black sentiu a onda de culpa e vergonha que fez sua pele arrepiar. Algo tão simples quanto as castanhas. Elas vinham embrulhadas em plástico, muitas camadas de plástico, que ela logo imaginou saindo de sua casa e viajando até um aterro sanitário, onde permaneceriam por toda a sua vida e pela vida de seus filhos.


Ela queria – queria de verdade – deixar uma pegada menor na Terra. Foi por isso que, há cerca de seis meses, pesquisou “ansiedade climática” e encontrou o nome de Thomas J. Doherty, psicólogo de Portland especializado em clima.

                                             

Uma década atrás, Doherty e a colega Susan Clayton, professora de psicologia no College of Wooster, em Ohio, publicaram um artigo propondo uma nova ideia. Eles argumentaram que mudanças climáticas teriam um poderoso efeito psicológico – não apenas nas pessoas que sofrem seus impactos, mas também nas pessoas que as acompanham por meio de notícias e pesquisas. Na época, a noção foi recebida como algo questionável.


Agora esse ceticismo está desaparecendo. A eco-ansiedade, um conceito introduzido por jovens ativistas, entrou no vocabulário dominante. E as organizações estão correndo para se atualizar, explorando abordagens para tratar uma ansiedade que é tanto existencial quanto racional. Embora haja poucos dados empíricos sobre tratamentos eficazes, o campo está se expandindo. 


A Climate Psychology Alliance fornece um diretório online de terapeutas conscientes do clima; a Good Grief Network, uma rede de apoio de pares baseada em programas de dependência em 12 etapas, gerou mais de 50 grupos; e começaram a aparecer programas de certificação em psicologia climática.


Quanto a Doherty, tantas pessoas agora o procuram por causa desse problema que ele construiu toda uma prática clínica em torno delas: uma estudante de 18 anos que às vezes sofre ataques de pânico tão graves que não consegue sair da cama; um geólogo glacial de 69 anos que às vezes afunda em tristeza quando olha para seus netos; um homem de 50 anos que explode de incompreensão com as escolhas de consumo de seus amigos, incapaz de tolerar sua conversa sobre férias na Toscana, Itália.


No outono passado, Alina se conectou para seu primeiro encontro com Doherty, que apareceu na tela com uma imensa e brilhante fotografia de sempre-vivas ao fundo. Aos 56 anos, ele é uma das maiores autoridades sobre o clima na psicoterapia e apresenta um podcast, Climate Change and Happiness. Em sua prática clínica, ele vai além dos tratamentos padrão para a ansiedade, como a terapia cognitivo-comportamental, e avança para outros mais obscuros, como a terapia existencial, concebida para ajudar as pessoas a combater o desespero, e a ecoterapia, que explora a relação do paciente com o mundo natural.


Uma pesquisa em dez países com 10 mil pessoas com idades entre 16 e 25 anos publicada no mês passado no periódico The Lancet encontrou taxas surpreendentes de pessimismo. Quarenta e cinco por cento dos entrevistados disseram que a preocupação com o clima afeta negativamente sua vida diária. Três quartos disseram acreditar que 

“o futuro é assustador” e 56% disseram que “a humanidade está condenada”.


O golpe na confiança dos jovens parece ser mais profundo do que no caso de ameaças anteriores, como a guerra nuclear, diz Susan Clayton. Caitlin Ecklund, de 37 anos, terapeuta de Portland que terminou a pós-graduação em 2016, disse que nada em sua formação profissional a preparara para ajudar os jovens que começaram a procurá-la mencionando desesperança e tristeza sobre o clima. “As coisas do clima são realmente assustadoras, então tentava mais acalmar e normalizar”, diz.


Ela faz parte de um grupo de terapeutas convocado por Doherty para discutir abordagens ao clima. Isso significava, para ela, “desconstruir parte daquele aconselhamento formal que implicitamente transformava as coisas em problemas individuais das pessoas”. 


Definitivamente, já enfrentamos grandes problemas antes, mas as mudanças climáticas são descritas como uma ameaça existencial. Isso mina a sensação de segurança das pessoas.


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Comentários

  1. As castanhas vinham embrulhadas em plástico, muitas camadas de plástico, que ela logo imaginou saindo de sua casa e viajando até um aterro sanitário, onde permaneceriam por toda a sua vida e pela vida de seus filhos.

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