DO TEXTO DE KARNAL.L (filósofo) "OS ANIMAIS NÃO DEVEM SOFRER" PRINCIPALMENTE OS DE SANGUE QUENTE.

Temos sangue quente. Devemos nos orgulhar de ter o fluido vermelho alguns graus acima da média. Talvez seja apenas lenda. A frieza do corpo indica a morte. O calor nos aproxima da vida. Nossos filhotes precisam ser amamentados. Em quantidades e locais distintos, temos pelos. Nosso coração é dividido em quatro cavidades, algumas dessas características nos classificam como mamíferos.

Somos capazes de elaborar narrativas com nossos cérebros desenvolvidos. A chamada Revolução Cognitiva foi fundamental para a ascensão da nossa espécie no planeta. Criamos códigos morais como o interdito do assassinato de outro ser humano.Matar outro humano é tema de quase todo debate penal. E os animais? 

                                                 


A identidade com os mamíferos é muito grande para você e para mim. Há mais gente criando cachorros e gatos do que cobras ou lagartos. O carinho escasseia ainda mais se tratamos de insetos. Animais quentinhos nos parecem mais agradáveis do que os frios. Alguém que maltrate um cachorro será alvo de muita raiva e, em alguns lugares, até pode se tornar um caso de polícia.

A Espanha aprovou lei que proíbe venda, em lojas, de animais de estimação. Você conhece alguma norma jurídica ou condenação moral contra empresas que eliminam ratos? Desratização é palavra consagrada e parece contar com certo apoio social. Um restaurante pode ser multado se não exterminar ratos e, ainda, deixar de apresentar o certificado das mortes. Ratos perto das mesas espantam clientes. Permitir cachorros entre os comensais é gesto simpático. O restaurante vira “pet friendly” e conquista a aprovação.

Ratos, cachorros e felinos são mamíferos de sangue quente, inteligentes, amamentam filhotes e estão presentes em muitas casas. Uns estão no tapete da sala e outros, escondidos em buracos. Ratos, por definição, não são “instagramáveis” (outro critério forte da defesa da vida ultimamente).Há mamíferos pouco “fofos”. Morcegos são bons exemplos. Tirando o Batman, ninguém se identifica com os bichos voadores que podem conter vírus letais. 

Nossa ética tem matizes, e nossa solidariedade é seletiva, sempre. O carrapato-estrela é um inimigo perigoso que transmite febre maculosa; a capivara que o carrega deve ser defendida a qualquer custo. 

Jeremy Bentham falou dos direitos dos animais na transição do século 18 para 19. O belga Georges Heuse elaborou regras contemporâneas, acerca do respeito, na convivência com animais. O esforço resultou na Declaração Universal dos Direitos dos Animais (Duda). Em 2012, em Cambridge, um grupo expressivo de cientistas lançou um documento que expunha: “O peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuírem os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos”.

Nosso antropocentrismo cria maior sensibilidade com mamíferos que consideramos agradáveis. É uma ética por espelho. Amamos mais a golfinhos e baleias do que sardinhas ou atuns. Não defendemos a vida em si, todavia a vida sentida e com expressões similares a nossa. Quanto mais “humana” for a experiência da dor, maior nossa identidade com a vítima.

Os animais nunca deveriam sofrer. Vivemos dias em que temos de dizer isso de humanos também. Apenas indiquei nossas ambiguidades, não para diminuir a proteção e a sensibilidade dada a alguns seres vivos, todavia para ampliar.

Afinal, que argumento pró-gato excluiria o rato? Soberana, a barata nos contempla, sabendo que ela sobreviverá à radiação e nós, mamíferos, não. A esperança tem alguma ironia, ou seja, cada animal tem seu papel ecológico, mas não necessariamente a querença (afeição)  humana, embora, por exemplo, ignoramos que um princípio ativo de uma anêmona-do-mar pode nos curar do câncer ou o veneno da jararaca pode virar medicamento para controlar a hipertensão. Resumindo, todos os animais merecem viver, mesmo que a nossos olhos sejam repugnantes, ainda que não sejamos capazes de compreender o seu papel na engrenagem do mundo biológico.

Comentários

  1. A identidade com os mamíferos é muito grande para você e para mim. Há mais gente criando cachorros e gatos do que cobras ou lagartos. Os animais nunca deveriam sofrer. Vivemos dias em que temos de dizer isso de humanos também.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Nossa intenção é proporcionar aos leitores, uma experiência atualizada sobre os fatos globais que possam ser discutidos
e possam provocar reflexões sobre o modelo de sustentabilidade
que desejamos adotar para garantir agora e no futuro a qualidade
de vida para todas as espécies da Terra.