Apoiando-nos na ciência, a representação de um momento, de um grupo neandertal, um momento de descanso e descontração cúmplice entre um pai, que deixa uma espécie de lança no chão entregando-se à degustação de avelãs, e o seu filho, absorto na passagem de uma tartaruga Ambos estão perfeitamente integrados ao ambiente e o utilizam pacificamente. Um retrato de família em harmonia com o paraíso.
Não somos tão diferentes. Os neandertais também buscavam climas quentes para viver em família . Nem tudo foi, para eles, sobreviver na estepe, fustigada pelo frio glacial da Idade do Gelo. Não surpreendentemente, a maior parte de sua existência no tempo geológico eles viveram em áreas com clima mediterrâneo e subtropical. No Levante espanhol, os neandertais desfrutaram, em algumas fases, de um clima ameno e abundância de alimentos, tanto de origem animal quanto vegetal.
Para construir este instante do passado remoto dos neandertais, os paleoartistas utilizaram os resultados da pesquisa do grupo ECCE HOMO, liderado por José Carrión da Universidade de Múrcia e em particular a obra monográfica cujo primeiro autor é especialista na análise de pólen.
A caverna perto da costa leste espanhola chamada Cova del Bolomor, com vista para o Mar Mediterrâneo, foi o local exato onde a equipe de Carrión realizou suas pesquisas. Lá, os neandertais locais viviam em um ambiente florestal que permaneceu praticamente inalterado de cerca de 350.000 a cerca de 100.000 anos atrás. Quatro fósseis de neandertais foram encontrados no sítio de Bolomor : um pedaço de osso da perna, dois dentes e parte de uma caixa craniana. Além disso, existem inúmeros vestígios da cultura musteriana, típica dos neandertais da Europa Ocidental.
A palinologia , ou análise do pólen fóssil encontrado e estudado pelo grupo ECCE HOMO da Universidade de Múrcia, nos forneceu informações sobre as plantas que ali cresceram, um grande número de espécies vegetais, muitas delas com frutos comestíveis .
Até onde sabemos, não há registro semelhante de uma paisagem florestal que tenha sido descrita em um contexto glacial. Pelo menos não com tamanha densidade e diversidade de plantas lenhosas.sabemos que as famílias neandertais que ocuparam o ambiente da caverna de Bolomor provavelmente comiam frutas e sementes de plantas, como avelãs ou nozes. À volta desta gruta puderam desfrutar da sombra dos pinhais e carvalhais e das verdes azinheiras, que cresciam ao lado de alfarrobeiras, medronheiros, castanheiros, nogueiras, bétulas e murtas.
Neandertais na área caçavam e processavam a carne de numerosos mamíferos, de diferentes tamanhos, e sem dúvida também comiam tartarugas, como evidenciado pela abundância de restos de conchas carbonizadas encontradas nos estratos do local.
Bolomor é também particularmente importante por ser o primeiro local ibérico onde se evidencia a presença controlada do fogo por uma espécie humana. As tartarugas eram cozidas em fogueiras, junto com presas frequentes, como lebres, coelhos, pássaros e veados, e ocasionalmente animais grandes, como cavalos e hipopótamos.
A área fornecia-lhes grande quantidade de alimentos, sua riqueza faunística e seu ambiente florestal facilitavam as estratégias de caça e o abrigo vegetal proporcionava a segurança e estabilidade necessárias para a sobrevivência. A paisagem daquela boa vida dos neandertais deve ter sido de grande exuberância visual. Para recriá-la, tivemos que trabalhar arte e ciência lado a lado, selecionar cada planta, avaliar sua abundância e posicioná-la na paisagem.
Não somos tão diferentes. Os neandertais também buscavam climas quentes para viver em família . Nem tudo foi, para eles, sobreviver na estepe, fustigada pelo frio glacial da Idade do Gelo.
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