MUDANÇAS CLIMÁTICAS RÁPIDAS MAIS A AÇÃO HUMANA PROVOCARAM A EXTINÇÃO DA MEGAFAUNA DO PLEISTOCENO.

 


Este é  um dos maiores debates da paleontologia e da ecologia histórica. O desaparecimento dos grandes mamíferos terrestres (a chamada megafauna do Pleistoceno) é um fenômeno complexo, que envolveu uma série de fatores combinados. Vamos destrinchar os principais argumentos científicos que explicam por que isso aconteceu em terra firme, mas não de forma equivalente nos ambientes marinhos:.

  

Por que os grandes mamíferos terrestres desapareceram?

1. Mudanças climáticas abruptas

  • O final da última era glacial (cerca de 10–12 mil anos atrás) trouxe aquecimento rápido, mudanças nos padrões de precipitação, no crescimento de vegetação e, por consequência, nos habitats.

  • Espécies grandes, com reprodução mais lenta e dependentes de ecossistemas específicos, não conseguiram se adaptar à rapidez das transformações ambientais.

2. Pressão humana (hipótese da supercaça)

  • A expansão de Homo sapiens coincide temporalmente com a extinção da megafauna em vários continentes (ex: América do Norte, América do Sul, Austrália).

  • Humanos caçavam de forma eficiente (uso de armas, fogo, organização em grupo) e exploravam ativamente os grandes herbívoros e carnívoros, acelerando seu declínio.

  • A perda de presas levou também ao colapso de predadores como o tigre-dente-de-sabre.

3. Baixa taxa de reprodução da megafauna

  • Mamíferos grandes têm ciclos reprodutivos lentos, o que os torna vulneráveis a qualquer desequilíbrio populacional.

  • Mesmo uma leve queda na taxa de natalidade ou aumento da mortalidade pode levar ao colapso populacional ao longo de poucas gerações.

4. Doenças e competição com espécies invasoras

  • A chegada de humanos pode ter trazido patógenos novos ou alterado o equilíbrio ecológico ao introduzir espécies exóticas (cães domesticados, por exemplo).

  • Espécies menores e mais generalistas prosperaram, competindo por recursos com os grandes mamíferos.


🌊 E por que isso não aconteceu em larga escala nos oceanos?

1. Menor impacto humano inicial

  • A caça intensiva de grandes animais marinhos (como baleias e peixes grandes) só se intensificou nos últimos séculos com o avanço da navegação e tecnologia.

  • No Pleistoceno, os humanos ainda não tinham acesso eficiente ao oceano para caçar em larga escala.

2. Maior conectividade ecológica

  • Os oceanos são sistemas abertos e altamente conectados, o que facilita o deslocamento e a dispersão das espécies em busca de alimento ou abrigo, reduzindo o impacto local de mudanças ambientais.

3. Estabilidade térmica maior

  • Os oceanos possuem maior capacidade térmica, o que significa que suas temperaturas mudam mais lentamente que as do ambiente terrestre.

  • Isso proporciona um ambiente mais estável durante as transições climáticas.

4. Reprodução e dinâmica populacional diferentes

  • Muitas espécies marinhas (mesmo as grandes) possuem estratégias reprodutivas com maior número de descendentes, aumentando sua resiliência frente a pressões ambientais ou populacionais.


🧠 Em resumo:

Apesar da estrutura fisiológica sofisticada dos mamíferos (homeotermia, hemoglobina eficiente, pulmões altamente desenvolvidos), os grandes mamíferos terrestres foram fortemente impactados por um conjunto sinérgico de fatores, com destaque para a ação humana e as rápidas mudanças climáticas. No meio marinho, a ação humana foi muito mais tardia e os ecossistemas oceânicos apresentam características que favorecem a resiliência e estabilidade de espécies de grande porte.

   Abaixo está uma lista com as principais espécies da megafauna do Pleistoceno, organizadas por continente, com uma estimativa aproximada de quando viveram ou foram extintas, em milhares de anos atrás (kya – “kilo years ago”ou milhares de anos atrás):  

América do Norte

  • Mamute-lanoso (Mammuthus primigenius) – até ~4 mil anos atrás (isolado na Ilha Wrangel), mas em grande parte extinto por volta de 10 a 12 kya

  • Tigre-dente-de-sabre (Smilodon fatalis) – extinto por volta de 10 kya

  • Preguiça-gigante (Megalonyx jeffersonii) – extinta por volta de 11 kya

  • Castor-gigante (Castoroides) – até cerca de 10 kya

  • Cervo-gigante (Cervalces scotti) – extinto por volta de 11 kya


🌎 América do Sul

  • Gliptodonte (Glyptodon) – extinto há cerca de 10 kya

  • Toxodonte (Toxodon platensis) – extinto por volta de 12 kya

  • Macrauquênia (Macrauchenia patachonica) – extinta por volta de 10 kya

  • Preguiça-gigante (Megatherium americanum) – extinta por volta de 10–12 kya

  • Felídeo da subfamília Machairodontinae – extinto por volta de 10 kya


🌍 África

  • A África foi menos afetada pela extinção da megafauna, mas ainda assim houve perdas:

  • Elefante-anão africano – extinto por volta de 10 kya

  • Hipopótamo anão (ilhas) – extintos nas ilhas por volta de 2–3 kya

  • Importante: muitos grandes mamíferos africanos sobreviveram até hoje, como:

    • Elefantes africanos

    • Rinocerontes

    • Leões

    • Girafas


🌏 Eurasia

  • Mamute-lanoso (Mammuthus primigenius) – extinto da maioria do território por volta de 10 kya

  • Rinoceronte-lanoso (Coelodonta antiquitatis) – extinto há cerca de 10 kya

  • Alce-gigante (Megaloceros giganteus) – extinto por volta de 7–8 kya

  • Leão-das-cavernas (Panthera spelaea) – extinto há cerca de 12 kya


🇦🇺 Austrália

  • Diprotodonte (Diprotodon optatum) – extinto por volta de 46 kya

  • Megalânia (Varanus priscus), lagarto gigante – extinta por volta de 40 kya

  • Leão-marsupial (Thylacoleo carnifex) – extinto por volta de 46 kya

  • Cangurus-gigantes (ex: Procoptodon) – extintos por volta de 45 kya


🧠 Observação interessante:

As extinções não ocorreram ao mesmo tempo no planeta. Há um padrão cronológico que coincide com:

  • chegada do ser humano moderno em cada região.

  • As mudanças climáticas do final da última era glacial.

  Aqui está uma tabela visual mostrando a ordem temporal aproximada da extinção da megafauna em cada continente, organizada por continente, com os principais representantes e a estimativa de milhares de anos atrás (kya) em que ocorreram as extinções:

  

📊 Tabela: Extinção da Megafauna por Continente

🌍 Continente🦣 Espécies Representativas⏳ Extinção Aproximada
               AustráliaDiprotodonte, Megalânia, Leão-marsupial, Cangurus-gigantes.46–40 kya
              Eurasia

Mamute-lanoso, Rinoceronte-lanoso, Leão-das-cavernas, Alce-gigante.
12–7 kya
             América do Norte
Mamute, Tigre-dente-de-sabre, Preguiça-gigante, Castor-gigante.
12–10 kya
           América do Sul
Gliptodonte, Toxodonte, Megatério, Macrauquênia
12–10 kya
           África                                           
Hipopótamos e elefantes anões (ilhas); maioria da megafauna persiste



10 kya (casos isolados)


                                               
OrdemCronológica Geral (Mais Antiga → Mais Recente):
  1. Austrália (~46–40 kya) – Primeira grande onda de extinção, logo após chegada humana.

  2. Eurasia (~12–7 kya) – Coincide com o final da era glacial e aumento da presença humana.

  3. América do Norte (~12–10 kya) – Extinções ocorreram rapidamente após chegada humana via Estreito de Bering.

  4. América do Sul (~12–10 kya) – Padrão semelhante ao do norte.

  5. África – Extinções muito mais brandas; megafauna sobrevive em grande parte até hoje.




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  1. O final da última era glacial (cerca de 10–12 mil anos atrás) trouxe aquecimento rápido, mudanças nos padrões de precipitação, as espécies grandes, com reprodução mais lenta e dependentes de ecossistemas específicos, não conseguiram se adaptar à rapidez das transformações ambientais.

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